Se queremos continuar aqui, passou da hora de lutarmos pelo que é nosso, por natureza.
O Encontro Mundial do Clima conhecido como COP 30, que acontecerá no coração da Amazônia Brasileira em novembro deste ano, me faz lembrar que não somos o filme que ninguém acredita, quase ninguém assistiu e que concorre ao Oscar, mas AINDA ESTAMOS AQUI. São 38 milhões de brasileiros, 13% da população vivendo, sobrevivendo, assistindo nossas riquezas sendo negociadas, nossa Amazônia sendo fatiada e com aquela sensação que este evento é a entrega do que restou.
Só isso justifica criminalizar qualquer ação dos que aqui vivem e buscam o seu desenvolvimento. Seja no Agro, na mineração, na exploração do petróleo. Nada podemos, mas as ONG's podem tudo. Eles estão legais e nós, só em fazermos planos, somos acusados de "destruidores do planeta". Chega, né? Nós ainda estamos aqui e, se não for tarde demais, iremos lutar pelo que é nosso.
Bom, a pergunta é: será que ainda é nosso? Ou foi vendido de forma ilegal e os que compraram estão vindo buscar a encomenda? A demarcação de terras indígenas homologada na Constituição Federal de 1988, escolheu, à dedo, as áreas de maiores riquezas em todos os aspectos. Com a alegação de que os indígenas precisam dessa imensidão de terras, o acesso é negado a nós brasileiros e liberado facilmente para as mais de cem mil ONG's que operam na Amazônia. A entrega foi oficializada na nossa Carta Magna. Os Povos Indígenas continuam à margem da dignidade humana e muitos reféns de órgãos nacionais e internacionais. O governo de FHC, ainda não satisfeito, criou, em 2002, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque. Intocado, pelo menos por brasileiros. Quem administra é o ICMBio, Ministério do Meio Ambiente do Brasil. Como dizem por aqui: "Tá bom pra ti"?
Marina Silva "Soros", aquela que está impedindo a exploração do petróleo na Margem Equatorial e que não faz mais cerimônia, é representante de interesses internacionais. Pagamos um Ministério para jogar contra nós. Esse não é o único, mas deixa esse assunto para outro artigo. Quando será que os que AINDA ESTÃO AQUI começarão a pesquisar sobre tudo isso? Sobre o que acontece nas terras demarcadas, nas Montanhas do Tumucumaque? Quando será que as contas bancárias de pessoas que, desde muitos anos, administram a Amazônia e conduzem esse engessamento, serão abertas para vermos a quem eles servem, de verdade? Onde foram parar os 81 milhões de dólares prometidos pelo Banco Mundial por compensação dessa Reserva? Tipo assim: "Cadê o dinheiro que iriam pagar para legalizarmos a nossa miséria, ao sermos proibidos de explorar a biodiversidade, os minerais, a tabela periódica toda que está nessa região"? Pois, é. Ninguém sabe e o povo daqui não tem nem mel e nem cabaça.
Por falar em onde está o dinheiro, esses eventos mundiais deixam os governantes do Brasil com as mãos coçando. Eles sempre dizem que vão atrás de investimentos. Esses recursos que eles dizem ir buscar chegaram por aí? Por aqui, não. Continuamos obedientes às negociatas deles, continuamos de mãos atadas, continuamos criminalizados quando começamos a sonhar com uma cidadania plena para o nosso povo amazônida e continuamos os mais prejudicados ou, por que não dizer, os únicos. Inclusive, continuamos sendo um excelente exemplo de preservação ambiental.
O cúmulo da humilhação é termos um governo que vai estender tapete vermelho para lideranças de outros países que não fazem a lição de casa, que não preservam o meio ambiente deles, e que virão na casa mais preservada do planeta ensinar a preservar, proibir de explorar, dá lição de moral, despejar seus discursos hipócritas claramente carregados de interesses econômicos em impedir a nossa região e o Brasil de se tornar uma nação autônoma, autossuficiente, próspera e livre. O que sempre fizeram foi garantir a exclusão do Brasil ao enxergarem o seu imenso potencial e sua grandeza, mas só tiveram èxito, por causa de governantes locais traidores da pátria, que nem deveriam ser chamados de brasileiros.
Segundo o site Petronotícias, Lula atendeu a um pedido da Marina de só liberar a pesquisa e exploração do Petróleo na Margem Equatorial, após a realização do COP 30. Se um governo depende de uma reunião com lideranças internacionais para decidir o seu destino, esse governo já negociou a própria soberania do país. Enquanto especialmente o Amapá, amarga a falta completa de perspectiva, com 81% da população vivendo de beneficios sociais, o Governo Federal cumpre acordo sei lá com quem, nem por que e nem em que termos. Nosso papel nessa história é arcar com os prejuízos desses acordos, como sempre.
Temos inúmeras fontes de energia e pagamos a conta de energia mais cara. Temos petróleo para explorar durante 100 anos e pagamos caro para abastecer nosso carro. Pagamos caro pelo isolamento geográfico, pela falta de estradas. Temos uma terra fértil e não podemos plantar, e pagamos caro para consumir muitos produtos que poderiam ser produzidos aqui. Pagamos caro quando os jovens não têm emprego e são cooptados pelo crime organizado. Pagamos caro com a violência que isso provoca. Pagamos caro quando crianças são entregues para o sexo em troca de um prato de arroz. Pagamos caro com a Amazônia sendo rota de tráfico de drogas, tráfico humano, de órgãos. Quando as árvores são o telhado de crimes sexuais cometidos com mulheres e crianças de todas as idades, o preço é o grito de uma multidão sem esperança, que desconhece até o que é sonhar com uma vida digna por nem saber o que isso significa.
Os reincidentes absurdos são sinais claros de que não existe mais soberania no Brasil e de que o que está sempre em negociação é a Amazônia. Fomos informados pela imprensa sobre a venda de uma reserva de urânio localizada em Presidente Figueredo (AM) para a empresa estatal China Nonferrous Trade (CNT). Cadeado mesmo é só para os brasileiros. Aos estrangeiros, a chave é entregue com o cadeado aberto.
Recentemente, o Ministério dos Povos Indígenas , assinou um protocolo de intenções com a empresa Ambipar, para dar a esta empresa o direito de administrar 14% do Território Nacional. A área equivale à soma das áreas da França e Inglaterra. A sensação que temos é que daqui a pouco, teremos que sair de nossas casas para entregar aos que a compraram com os "atravessadores de plantão" do Governo Federal, e tudo com a aqueiscência dos nossos representantes eleitos, como foi ao demarcarem as terras indígenas e ao criarem a Reserva do Tumucumaque. Se dependesse da Suprema Corte, tudo seria pior, pois não haveria o marco temporal e qualquer lugar que eles achassem que um dia viveu um indígena, se tornaria demarcado e aí, a probabilidade de termos que entregar nosso patrimônio para o Estado com a desculpa de devolver aos povos originários, se tornaria uma certeza. Finalmente, depois de nos tirarem tudo, nos expulsariam.
Ainda estamos aqui? Ainda estamos aqui! Ainda estamos aqui... seja qual for a pontuação após essa sentença, é preciso fazer algo, se realmente queremos continuar aqui. Eu vislumbro uma virada de chave a partir da partilha do conhecimento. Precisamos acordar o povo do Norte, nem que seja um por um. Alerte seu amigo, seu vizinho, seu parente. Explique, desenhe, se for preciso. Transmita o que você já sabe e busque sempre mais conhecimento. Ainda que pareça que tudo está perdido e estamos prestes a sermos deportados de nossa terra para que não haja nenhuma resistência e quem já explora nossas riquezas através dessas artimanhas, pareça estar prestes a fazer isso de forma clara, entrando e saindo pela porta da frente, o tiro deles pode sair pela culatra.
Podemos usar esse pouco tempo que resta para fazermos uma mobilização nunca vista antes pelo povo que mais sofre e que sente na pele os efeitos desse boicote interno em prol de beneficios externos. Quando a terra mais cobiçada do mundo é habitada por um povo que lhe falta tudo, é porque nos foi roubada a consciência da realidade, nos foi negada a educação, a ciência e a tecnologia. Nos foi imposta uma ignorância conveniente aos invasores que nos faz duvidar de nossas capacidades e desacreditar que um dia poderemos usufruir do que é verdadeiramente nosso. Essa luta é, primeiramente, mental, e será vencida por meio de muitas mãos. Concluo esse artigo fazendo a minha parte com as minhas.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia