petroleo amapa

O momento exige reflexão e ação para que não aconteça o de sempre: O Amapá ganha mas não leva.

Tenho acompanhado este debate diretamente de Macapá, onde resido. A permissão para a exploração sai ou não sai? Ao que tudo indica, sai. Não porque o Amapá queira ou precise, mas porque o Brasil precisa. Trata-se de uma questão de soberania, defesa nacional e segurança energética — fatores que, inevitavelmente, colocam o país em confronto com ONGs ambientalistas.

Se não fosse por isso, o Amapá continuaria sem perspectivas, sendo sempre dono de um imenso potencial mineral e de uma localização estratégica invejável, mas condenado a perder oportunidades. No passado, perdemos a chance de nos tornarmos uma base espacial por estarmos no ponto mais estratégico do planeta — no meio do mundo. A base foi para Alcântara (MA), e a base de Kourou, na Guiana Francesa, ocupou o lugar que vocacionalmente nos pertencia.

Em 2013, empresas petrolíferas investiram no Amapá, mas duas delas desistiram diante das amarras burocráticas e da falta de vontade política. Hoje, estão literalmente nadando em dinheiro com a exploração da Margem Equatorial no Suriname e na Guiana Inglesa — dois países que mais crescem economicamente atualmente, com apenas cinco anos de exploração. Tudo isso poderia estar acontecendo aqui, no Amapá e no Brasil. Mas não está. Porque aqui, qualquer ONG se impõe, e a decisão de um instituto aparelhado e ideologicamente comprometido se sobrepõe à vontade da maioria da população.

Preservar corais que nem sequer existem é mais importante do que garantir dignidade a seres humanos que sobrevivem na região mais rica do Brasil como miseráveis, dependentes de auxílios sociais, sem acesso adequado à saúde, à educação, e sem sequer terem consciência do solo valioso onde pisam.

São presas fáceis nas mãos de organismos internacionais que há muito se instalaram no nosso território pela porta da frente e que transitam livremente onde o próprio povo do Amapá é impedido de entrar.

Mas vamos aos últimos acontecimentos que antecedem o leilão de 47 blocos da Margem Equatorial, marcado para 17 de junho.

O Amapá vive uma situação crítica como Estado que praticamente nada produz. Comparando o seu potencial com sua produção efetiva, a conclusão é desoladora. É um estado legalmente impedido de se desenvolver. A economia gira em torno dos contracheques das esferas federal, estadual e municipal. Quem quer emprego, precisa emigrar para o sul do país. A lógica tem sido: “se podemos dificultar, por que facilitar?” Esse pensamento afugenta empresas e investidores, que saem frustrados e com prejuízos.

As dificuldades vão desde legislações ambientais restritivas até práticas extorsivas, sem esquecer a falta de mão de obra qualificada. A ausência de investimentos, impulsionada por essas barreiras, faz com que o dinheiro que circula aqui sustente outros estados, já que quase tudo o que consumimos vem de fora. Assim, o Amapá perde por todos os lados. Mesmo com tudo para dar certo, amarga índices vergonhosos de pobreza e insegurança alimentar.

Não dá mais para esperar. O Amapá não suportará mais um golpe. Mas o que fazer se não houver estrutura e um ambiente de negócios propício para que a indústria de óleo e gás se estabeleça, especialmente aqui, onde se estima que 70% do petróleo está concentrado?

O brasileiro sofre do complexo de vira-lata frente ao mundo, e o amapaense vive o mesmo em relação ao resto do Brasil. Essa mentalidade precisa mudar. É urgente que nos empoderemos daquilo que já somos e que os de fora enxergam, temem e tentam controlar. Temos plenas condições de sermos autossuficientes, mas agimos como dependentes. Essa postura vem da má qualidade da nossa educação, da nossa política e das experiências negativas acumuladas.

Mas este é o momento de olhar para o futuro com esperança. Temos o que muitos não têm. Precisamos de serenidade, objetividade e coragem para tomar decisões acertadas — com a mesma força com que uma mãe luta por um filho — até nos tornarmos o que fomos criados para ser: uma nação soberana, forte, dona de si, que constrói o próprio futuro com trabalho, fé, perseverança e resiliência.

Sim, somos resilientes. Mas sem foco. Se toda essa energia tivesse direção, já teríamos chegado ao nosso destino.

A Petrobras, apesar de estatal, tem 49% do seu capital pertencente à iniciativa privada — investidores que não desperdiçam dinheiro. A motivação deles é o lucro, e ele precisa vir de forma legal e sustentável. A Petrobras já opera dentro desses parâmetros em diversas regiões, acumulando selos de excelência e segurança. Suas decisões não se baseiam em planos políticos ou ideológicos, mas sim nos seus próprios interesses — o que a torna a maior empresa de petróleo do mundo.

Mas por que o Brasil, que a possui, não é também o maior? Porque a gestão nacional não trata seu patrimônio com a seriedade que deveria. Muitas decisões técnicas são negligenciadas em favor de conveniências políticas — e quem ganha é a concorrência, não o país.

A operação no Amapá parecia impossível, mas mais de 500 milhões já foram investidos para torná-la viável. E como disse: a Petrobras não rasga dinheiro. A questão não é mais se vai acontecer, mas como vai acontecer. Como realizar uma operação dessa magnitude num estado com isolamento geográfico crônico, onde a BR-156, que liga a capital ao Oiapoque, está há 80 anos em construção? É a obra federal mais antiga em andamento.

Esta semana, parte da população comemorou o fim da exigência de visto para a Guiana Francesa. Mas por que justo agora? Ao invés de reforçar a segurança fronteiriça — especialmente quando a França está construindo um presídio de segurança máxima na Guiana Francesa — o Brasil enfraquece ainda mais a sua fronteira. O problema não é a França pensar em si mesma. O problema é o Brasil pensar nela mais do que pensa em si. É inadmissível. Temos um governo que serve aos interesses estrangeiros.

Neste artigo, faço mais perguntas do que ofereço respostas.

Por que os políticos locais, que sabiam do potencial petrolífero desde 2013, não prepararam o estado para receber essa indústria? Onde estão as estradas, os cursos técnicos, os programas de capacitação, os esforços para reduzir a burocracia, a conscientização das populações originárias? O que tivemos foi a intromissão de organismos internacionais manipulando essas comunidades contra o próprio desenvolvimento.

As empresas que vierem para cá conseguirão resistir à politicagem, às leis ambientais absurdas, à falta de incentivos fiscais? Como disse o secretário de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Rodrigo Vianna: essas empresas não permanecem em ambientes assim.

No Oiapoque, base inicial da operação, só 1,3% do território pode ser utilizado. Como transformar essa região na base de um empreendimento tão grandioso? Uma grande empresa se instalaria ali? Quem empreenderia num lugar assim? Outro ponto crucial é a segurança de realizar essa operação numa área fronteiriça com a França — a maior interessada em manter o Amapá subdesenvolvido.

Existem empresas amapaenses preparadas para aproveitar esse mercado? Apresentem-se. Movam-se! As empresas do Rio de Janeiro estão prontas para vir. E não se trata de xenofobia: precisamos delas. Não temos mão de obra nem empresas suficientes. A Petrobras não espera. Se há 47 anos o pré-sal era urgente, hoje a Margem Equatorial é uma emergência. Ou agradecemos aos que virão ou perderemos tudo.

Que isso sirva de lição. Não para desistirmos, mas para aplicarmos com sabedoria o que vamos receber. Que nossos netos estejam preparados.

Devemos focar nos royalties bilionários? Ou na empregabilidade, formação técnica, desenvolvimento em ciência, tecnologia e pesquisa, e na construção de um novo e próspero Amapá? Se a mentalidade não mudar, viveremos o mesmo que após a saída da Icomi.

Quem critica, deve agir. Envolver-se, estudar, tornar-se protagonista. O verdadeiro ganho está no que seremos com essa transformação. Não no que receberemos por lei.

Macapá, com 60% da população do Estado, é a cidade mais estruturada e com maior capacidade de fornecer mão de obra. Seja como base, seja como ponto de apoio, vimos nesta semana um prefeito comprometido: Dr. Furlan está empenhado em criar um ambiente propício para receber essa indústria transformadora.

Não sabemos onde a Petrobras se instalará. Sabemos de onde sairá o nosso petróleo. Não sabemos por onde ele escoará. Mas nosso papel é acompanhar de perto, pressionar a classe política a colocar o Amapá acima dos interesses pessoais, e oferecer o nosso melhor para sermos escolhidos. E, se formos, que tenhamos a humildade de aprender com quem sabe, e acolher com respeito quem vier construir um Novo Amapá. Somos um povo acolhedor.

É hora de refletir com a razão, não com o fígado. Não devemos cair em ilusões, especulações ou nos deixar enganar por oportunistas. A informação verdadeira é o bem mais precioso neste momento. Que ela nos guie a tomar as melhores decisões. Enquanto aguardamos, sejamos fé em ação. A mudança começa por nós: com nossa vigilância, nossas escolhas e nossa postura.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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