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 audiencia marina

Não temos liberdade de escolha. Impuseram a nós um futuro de miséria. Sílvia Waiãpi (PL-AP)

Durante audiência pública convocada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, foi convocada a prestar esclarecimentos sobre diversos temas, entre eles: os impactos ambientais da construção da rodovia para a COP 30 em Belém (PA), sua participação no Acampamento Terra Livre, o aumento das queimadas desde 2010, as multas ambientais aplicadas pelo Ibama, a degradação da Amazônia Legal e a morosidade na aprovação de novos defensivos agrícolas.

A audiência durou quase sete horas e as respostas da ministra foram evasivas, limitando-se a reforçar ações do governo, sem admitir falhas. Além disso, citando provérbios biblicos, se vitimizando e se autodeclarando certa e justa.

Entre os parlamentares que se manifestaram, destacou-se a deputada federal Silvia Waiãpi (AP), que fez duras críticas à atuação do Ministério do Meio Ambiente e ao Ibama, especialmente em relação às comunidades indígenas e ao desenvolvimento da Amazônia.

Waiãpi acusou o ministério de adotar políticas que empobrecem ainda mais as populações do norte. “Ao que parece, estão expulsando moradores, destruindo vidas e condenando o povo do norte à pobreza extrema”, afirmou. Sílvia defendeu o Agro da Amazônia e lembrou que as famílias que lá chegaram, foram através de um programa chamado integrar para não entregar que durou de 1964 a 1985. "Essas pessoas vieram ocupar a região norte para ajudar a salvaguardar a soberania do Brasil e agora estão sendo tratadas pelos Ibama e ICMbio como criminosas" lamentou.  Ela apresentou diversas manchetes de jornais denunciando ações do Ibama, como a apreensão de gado em terras indígenas, e relatou pedidos de socorro de lideranças Guajajara no Maranhão, cujos animais foram confiscados, comprometendo a subsistência da comunidade.

A deputada destacou que os povos indígenas querem autonomia, e não dependência. “Eles foram condenados à miséria. O Ibama estava lá, destruindo cercas, apreendendo o gado. Isso não é proteção ambiental, é condenação”, denunciou.

Ela ainda criticou o bloqueio de terras produtivas no Amapá, afirmando que 75% do território está inacessível devido a reservas e áreas protegidas. “Enquanto o Sul e o Sudeste têm 20% de reserva legal, nós lidamos com 80%. Querem proteger o mundo, mas condenam o povo amazônico à miséria”, protestou.

Silvia também condenou a tentativa de criação de uma reserva marinha entre o Oiapoque e o Piauí, proposta feita pela USP. Segundo ela, essas decisões ignoram a fome e o sofrimento da população local. “Mulheres e crianças estão sendo sacrificadas por uma política ambiental que diz querer salvar o mundo, mas que na prática condena o futuro das pessoas que vivem no norte do Brasil”, disse emocionada.

Citou ainda dezenas de manchetes de protestos e bloqueios em estradas causados por operações do Ibama e ICMBio na região norte, que geraram revolta entre produtores rurais e comunidades locais. “Estamos famintos. Somos vistos como um estorvo para o Brasil. Em parte, porque nos proibem de produzir. Crianças são abusadas, mulheres traficadas, famílias destruídas por uma política pública insensível e excludente”, declarou.

A deputada alertou ainda para interesses internacionais na preservação extrema da Amazônia, mencionando o antigo litígio entre França e Brasil pelo território do Amapá. “Quem define o futuro da nossa terra não somos nós. São decisões impostas de cima para baixo, com a chancela do seu ministério”, acusou, dirigindo-se à ministra.

Segundo Waiãpi, as medidas ambientais atuais impedem o desenvolvimento regional, bloqueiam o aproveitamento de recursos naturais e deixam estados como o Amapá dependentes de importações, inclusive de carne. “Meu estado é isolado do resto do país. Tínhamos 4% de saneamento básico. Com a privatização, estamos com 7,9% de saneamento e somente na capital. E quando tentamos reagir, somos criminalizados”, reforçou.

Para ela, o governo ignora deliberadamente os anseios do povo amazônico. “Não peço que a senhora nos liberte, porque já nos condenou. O que estamos vendo é uma insurreição amazônica. O povo já não aguenta mais”, concluiu.

audiencia silva

"Deus, querendo nos educar de que toda vida importa, ele se comporta como uma galinha" Marina Silva.

Durante a audiência, Marina Silva discursou sobre a sua trajetória, falou de Chico Mendes a Dorothy e elogiou o governo Lula como exemplar. Frequentemente, desviou o foco das perguntas, mencionando os atos de 8 de janeiro e comparando os governos Bolsonaro e Lula, sem oferecer respostas concretas. Ratificou todas as ações do Ibama e do ICMbio, exigindo respeito a esses órgãos e aos funcionários públicos que os compõem. Também alegou que a estrada que esta sendo feita no Pará, o licenciamento é responsabilidade do governo estadual e não do Ibama.

A ministra Marina conseguiu provar duas coisas: sua resistência física ao suportar um debate de quase 7h e sua capacidade de dar nó em pingo d´água em se tratando de dominar narrativas. O que era para ser uma prestação de contas, acabou transformado num palco de discursos políticos e defesas ideológicas, sem avanços reais.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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