O Centrão comendo pelas beiradas da direita e da esquerda, fica com a maior fatia
A vitória do amapaense Davi Alolumbre (União Brasil) para presidir o Senado da República mais uma vez, nos faz chegar a muitas conclusões, mas me aterei a uma leitura desse fato a partir do que temos para hoje, e o que temos é um centrão que sabe articular e que encontrou uma figura que representa bem essa "virtude", um centrão que olha para onde os ventos estão soprando e, parecendo sem rumo, acaba sendo o que está dando os rumos. A eleição de Alcolumbre a primeira vez, foi cheia de esperança, até porque ele estava derrotando o macaco velho do Renan Calheiros. Mas esta segunda vez, é a constatação de que novos macacos conseguem se equilibrar no poder até se tornarem velhos.
Bom, essa liderança de Alcolumbre prestigia tão somente a capacidade de articulação política antiga da qual o Brasil já está acostumado e cuja atual situação do país é o seu reflexo. É um mal incontido e pegajoso que parece quase impossível de nos desvencilharmos. Enquanto a direita não tiver maioria na Casa de Leis, e enquanto não tivemos uma Corte Suprema Constituicional, apartidária, com ministros dispostos a aplicar a lei sem terem que entregar encomendas a quem lhes colocou lá, o centrão continuará assim, desse jeitinho que o Pacheco olha para o Alcolumbre, rindo da nossa cara e comemorando a mesmice com a antiga canção: "oh, oh, oh, nada mudou". E o povo continuará cantando: "Que país é esse? Que país é esse"?
Mas vamos ao que o tema do artigo nos convida, O que Bolsonaro, mais uma vez, tenta fazer? Encontrar um meio legal de barrar as enormes injustiças, arbitrariedades e ilegalidades que estamos presenciando e sofrendo nos últimos anos. Aquele que é acusado de "golpista" e "criminoso", ameaçado de prisão, mais uma vez, continua jogando dentro das quatro linhas, quase que numa carreira solo.
Precisamos entender que o centrão que escolheu Alcolumbre. Ele foi o preferido apenas do seu bando e engolido pelos demais. Por vários motivos, um gole bem indigesto que gerou polêmicas dentro da direita. Eu não considero divisão, mas liberdade de pensar, refletir, discutir e, por fim, depois que a poeira baixa, entender que não havia alternativa. O prato estava sendo servido e os que estavam à mesa não podiam mudar o cardápio. Era chorar, espernear e comer. Enquanto isso, a esperança é de que a direita se politize cada dia mais e não seja mimada esperando uma solução que simplesmente não existe, pelo menos no contexto atual. Quem sabe, um dia. E isso depende muito mais da direita do que de Bolsonaro.
O PL lançar candidato, seria amargar uma derrota ainda maior do que a de Marinho contra Pacheco. Seriam mais dois anos de engessamento diante de pautas importantes que precisam avançar no Senado, e foi tão somente por causa dessas pautas que Bolsonaro decidiu apoiar o que já estava decidido entre a maioria dos senadores. Portanto, não é uma opção imoral quando não fazê-la daria o mesmo resultado e deixaria o PL completamente sem voz e sem vez. Ele arriscou ser julgado, arriscando também confiar em quem lhe traiu. Olhando rapidamente para o cenário, é como se Bolsonaro estivesse traindo quem confia nele e confiando em quem lhe trai. Enfim, a vida é um risco. Se olharmos para as decisões diárias da nossa vida pessoal, elas não são diferentes. Muitas vezes, só nós sabemos o porquê de algumas escolhas e esperamos que o tempo ajude outros a nos compreenderem e pararem o julgamento. A certeza de que fizemos o melhor diante das opções viáveis, nos absorve.
Claro que é altamente inconveniente para nós, seus eleitores, vermos o PL apoiar a mesma pessoa que o PT apoia. Vermos o aliado do Lula, o judeu que nada fez quando seu chefe defendeu o Hamas e se colocou conra Israel, sendo apoiado pelo Bolsonaro que não precisa ser judeu para defender Israel e ser contra terroristas. Se um judeu não se levantou contra quem deseja a morte de seu povo, que expectativa criar a respeito dele? não falarei de outras omissões e ações. Resta acreditar que o faro por estar sempre no poder, seja aliado de direita ou de esquerda, faça Alcolumbre cumprir suas promessas com Bolsonaro e o que ele representa, que hoje é o que a maioria dos brasileiros quer.
Bolsonaro busca, com isso, de forma legal, republicana, pautar o que realmente interessa e é urgente para o Brasil. Não é um favor que Alcolumbre lhe faz. É o óbvio, já que a inelegebilidade de Bolsonaro é ilegal, as centenas de prisões, desde o Dep. Federal Daniel Silveira até o 08 de janeiro são ilegais, e até mesmo a condução da eleição em 2022 e seu resultado, têm todos os indícios de ilegalidade. Pela Constituição, quem tem que colocar as coisas em seus devidos lugares é o Senado. E a direita, a única que luta pela liberdade e prosperidade do povo brasileiro, precisava de cadeiras, de comissões, para essas pautas se moverem. Um "golpista" andando a segunda milha, tendo que apoiar Alcolumbre sem motivos para comemorar sua vitória, sabendo que só mesmo quem comemora é o centrão fisiológico que ele conhece mais do que ninguém e sabe que é um mal necessário.
Muitos esperam uma solução externa para resolver nossos problemas. Quem dera que isso acontecesse, mas isso também tem um preço, talvez alto e desconhecido para nós. Bolsonaro preferiu o caminho do Brasil assumir e, dentro dos espaços que ainda existem, dentro dos papéis e funções parlamentares, lutar para que esse barco que está à deriva, seja salvo, ainda que com a ajuda de quem já jogou contra, em outras oportunidades. Que os Senadores e Deputados de direita que lá estão, possam aproveitar cada oportunidade e defender, com todas as forças, os anseios da sociedade que segue sem esperança diante da mesmice ocupando essa cadeira tão importante para a nossa Democracia e Soberania, num momento tão delicado.
Concluo falando sobre um assunto que não merece um novo artigo, mas que precisa ser comentando. A alegria de muitos amapaenses com a vitória de Alcolumbre, a meu ver, é um reflexo de três fenômenos: a completa ignorância, a má fé ou a comemoração da vitória de seus próprios interesses. Achar que isso muda alguma coisa no Amapá, é ter falta de memória. Alcolumbre já ocupou essa cadeira e sempre está na liderança de comissões importantes como a CCJ, e o Amapá continua esse caos, sem emprego, 80% vivendo de benefícios sociais, empresas desistindo daqui, famílias indo embora para o Sul do país. Ser da família ou da patota dele, com certeza, justifica tanta comemoração e expectativa. Mas para o cidadão comum, aquele que lhe é negado o básico, este tem é que se envergonhar. Como criar expectativa em um grupo político que é a razão de estarmos no fundo do poço? Olhem para o tempo que essas pessoas estão no poder e para o pouco que fizeram pelo povo. O Amapá só é uma maravilha para eles. Para muitos de nós, estamos respirando fundo,tentando outra vez e lutando por uma dignidade que nos é negada há décadas. Quem tem olhos para ver, que veja!
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia