O empreendedor da Amazônia não quer caridade, quer oportunidade de transformar seu talento em negócio
O segundo dia do Inova Amazônia Summit, realizado no Sebrae em Macapá, reuniu especialistas, empreendedores e autoridades do setor de bioeconomia da Amazônia. O evento destacou os desafios e as oportunidades para um desenvolvimento sustentável que promova impacto econômico e social nas comunidades locais.
No painel “Ecos da Terra: A força do design sustentável a serviço da floresta”, ganhou destaque a participação da designer amapaense Bruna Freitas, criadora da marca Yaracouro, que desenvolve bolsas e acessórios a partir de resíduos da atividade pesqueira. Bruna defende que é essencial produzir no próprio Amapá, gerando valor local e superando as barreiras logísticas impostas pela distância dos grandes centros industriais. Sua ideia surgiu a partir do desperdício do couro do peixe. “Se for bem encaixado, não existe lixo. É preciso mudar a percepção sobre o que é resíduo e matéria-prima”, afirma.
O momento de discutir, planejar e se preparar é agora.
O designer Walter Rodrigues reforçou a necessidade de políticas públicas que facilitem o acesso a recursos para os empreendedores. “As pessoas não precisam de caridade, precisam de oportunidade para transformar talento em produção”, destacou. Walter também apontou que a Amazônia precisa investir mais em tecnologia, reduzir a burocracia e fortalecer a capacitação em gestão, permitindo que os negócios locais ganhem escala e cheguem aos grandes mercados. “O que mais ouço dos investidores é: esse negócio é incrível, mas ainda é pequeno”, completou.
A doutora em design Ana Paula Nazaré chamou atenção para a necessidade de incentivos fiscais e de levar a educação além dos espaços formais. “Não basta ser da Amazónia e ser sustentável. É preciso dominar as tecnologias e educar o mercado para que reconheça o valor de cada peça produzida aqui”, afirmou. Para ela, é fundamental que a população local valorize constantemente sua própria riqueza. “O que temos aqui é único. Se nós não fizermos algo, outros farão”, alertou.
"O Sebrae foi o meu caminho asfaltando" Val, CEO do Engenho Café de Açai.
O evento também apresentou histórias de sucesso, como a da empresária Ana Carolina Frota, fundadora da marca de cosméticos Sintropia, e de Valdeci Gonçalves, CEO do Engenho Café de Açaí, que já exporta para os Estados Unidos e, em breve, para os Emirados Árabes. “O Sebrae foi o meu caminho asfaltado”, reconheceu Valdeci.
A economista Cláudia Chelala trouxe uma reflexão crítica sobre as áreas protegidas no Amapá. “Protegidas de quem e para quem?”, questionou. Segundo ela, a ausência do Estado nesses territórios tem permitido a atuação do crime organizado, que explora ilegalmente madeira e minérios. Cláudia também alertou que o Amapá não aparece nas estatísticas de cultivo do açaí, pois toda a produção é baseada no extrativismo — modelo insustentável a longo prazo. “É essencial investir no cultivo para garantir oferta contínua e fortalecer a nova economia da floresta. O ser humano deve ser o manejador responsável da floresta, mantendo-a produtiva”, concluiu.
O Inova Amazônia Summit encerra-se esta sexta-feira (23), com mais painéis, exposições e rodadas de negócios, reforçando a bioeconomia como um caminho estratégico para quem deseja empreender, já empreende ou procura consumir produtos sustentáveis e de origem amazônica.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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