Estiveram presentes na programação várias autoridades políticas e empresariais. Foto: Junior Dantas
Essa foi a expectativa que se criou ao receber o prefeito de Macaé, Welberth Rezende, e seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Vianna. A iniciativa de firmar um acordo entre as duas cidades partiu do prefeito de Macapá, Dr. Furlan. Essa cooperação técnica e institucional tem como objetivo a troca de informações e experiências com quem já percorreu o desafiador caminho da indústria do petróleo, preparando, assim, a capital amapaense — que concentra 60% da população do estado — para o que está por vir com a exploração da Margem Equatorial.
A parceria teve início na manhã de quarta-feira, 4 de junho, com uma série de palestras realizadas no auditório da Fecomércio, direcionadas às autoridades de diversos setores e à sociedade civil organizada. O acordo foi oficializado no final da tarde, em solenidade realizada no salão nobre do Palácio Laurindo Banha.
Veja algumas entrevistas sobre o tema:
O evento, promovido pela Prefeitura de Macapá e aberto ao público, teve como missão mobilizar, planejar e fomentar atitudes assertivas diante dessa promissora — e desafiadora — oportunidade de desenvolvimento econômico por meio da indústria de Óleo e Gás, que está prestes a se estabelecer na região.
“Preparação é a chave” – Destaca o prefeito Furlan
O prefeito Dr. Furlan destacou que muitas pessoas aguardam ansiosamente pela chegada da cadeia produtiva do petróleo. No entanto, ele alerta que não basta esperar — é preciso preparação. “Macaé tem hoje a terceira maior média salarial do Brasil, com um orçamento de R$ 5,3 bilhões. Isso transforma uma cidade. Mas o nosso foco deve ser, acima de tudo, transformar a vida das pessoas”, enfatizou.
Para ele, a assinatura do termo de cooperação representa uma bússola para guiar Macapá rumo ao desenvolvimento. “Vamos aprender com quem já sabe e com quem está disposto a nos ensinar”, reforçou.
Auditório da Fecomércio lotou para ouvir informações importantes dessa conexão Macaé-Macapá. Foto: Junior Dantas
A geopolítica em jogo
O senador Lucas Barreto destacou que o Amapá se consolidou como uma verdadeira terra de oportunidades. “Existem forças ocultas explorando na mesma plataforma. A Guiana Inglesa, por exemplo, já produz 70% do que o Brasil produz em petróleo”, revelou. Ele voltou a criticar a tentativa de criação da reserva marinha, destacando que hoje o Amapá conta com uma das bancadas mais fortes no Senado.
A deputada federal Silvia Waiãpi também fez declarações contundentes. Para ela, é uma honra estar presente neste momento histórico, lutando pelo crescimento do Amapá. Ela parabenizou a OAB-AP, na pessoa do presidente Israel da Graça, pela nota de repúdio emitida contra as audiências públicas que estavam sendo promovidas pelo ICMBio, que insistiam na criação de novas reservas na área marinha do estado.
Silvia foi além, afirmando que o Amapá tem sido vítima de um complô internacional. Ela traçou uma linha histórica desde 1900, quando a França perdeu o território do Amapá para o Brasil, passando por 2004, quando a Marinha brasileira solicitou, junto ao tribunal internacional, a posse de uma área marinha. A partir de então, segundo ela, começaram as pressões, culminando com a recente visita de Emmanuel Macron à Amazônia, reforçando acordos que tentam, segundo a deputada, travar o desenvolvimento da região.
Ela destacou ainda que, em 26 de março de 2025, a ONU declarou oficialmente que as águas em disputa pertencem ao Brasil, o que expandiu o território marinho brasileiro em 360 mil km², uma área com potencial econômico ainda maior do que a própria Margem Equatorial.
“Essa parceria é extremamente oportuna. Sempre ganhamos, mas não levamos, porque não estávamos preparados. Essa atitude de firmar esse acordo é exatamente o que impede que isso continue a acontecer. A atividade minerária e energética é estratégica para qualquer nação”, concluiu.
As lições de Macaé: sucesso, desafios e caminhos
Welberth Rezende iniciou sua fala reconhecendo que Macaé também cometeu muitos erros no começo. “Tudo era muito novo. Hoje, essa experiência acumulada servirá como uma bússola para Macapá, que começa a trilhar esse mesmo caminho”, afirmou.
“Muda tudo. A Petrobras não leva desaforo para casa. Os salários são muito altos. Macaé vivia de pesca e agricultura e o petróleo chegou como um furacão. Hoje, somos a cidade brasileira com maior percentual de trabalhadores na formalidade”, destacou. “Petróleo paga bem, mas traz de fora, muito rapidamente, tanto empresas quanto mão de obra. E é preciso que os cursos sejam específicos e credenciados pela Petrobras”, completou.
Welberth, reeleito com expressivos 85,6% dos votos — curiosamente muito próximo aos 85,8% de aprovação do prefeito Furlan — ressaltou que ambos têm em comum a visão de colocar a cidade acima de qualquer pauta ideológica, sejam elas de direita ou esquerda. Ambos defendem que o melhor projeto social que existe é o emprego.
Dois prefeitos com mais de 85% de aprovação, reeleitos por priorizarem os interesses de suas respectivas cidades. Foto: Junior Dantas
O prefeito de Macaé contou que, no início da exploração, a cidade enfrentou aumento na violência e na favelização, resultado da migração de pessoas qualificadas e não qualificadas em busca de oportunidades. “É claro que a movimentação vai acontecer. Mas é preciso usar o dinheiro do petróleo para transformar a vida das pessoas”, reforçou.
“Sou desenvolvimentista. Quem tem petróleo, extrai logo, porque daqui a pouco ele não vai valer mais o que vale hoje”, alertou.
Turismo, educação e inclusão social atrelados à indústria
Welberth destacou também que há um turismo muito forte impulsionado pela indústria do petróleo. “Existe um equívoco em pensar que turismo é só lazer. Macaé é o segundo maior polo hoteleiro do Estado do Rio, atrás apenas da capital. Grandes redes internacionais estão lá, movidas pela demanda da indústria do petróleo. O mundo todo está em Macaé.”
Ele exemplificou políticas públicas exitosas como o Cartão Educação, no valor de mil reais, entregue a 42 mil alunos. O recurso deve ser obrigatoriamente utilizado no comércio local, preferencialmente em pequenos estabelecimentos. Além disso, mencionou o programa social Macaíba, que investiu R$ 75 milhões, um benefício às pessoas em vulnerabilidade social.
“Nosso slogan é: ‘Proibido perder negócio’. A Petrobras só vai onde ela vê oportunidade e segurança' explicou.
E foi além: “Empresas de Macaé, inclusive as maiores do planeta no setor de óleo e gás, estão preparadas para investir em Macapá. Elas querem ouvir o prefeito e se colocar à disposição.”
Segurança, educação superior, infraestrutura e credibilidade: As Chaves
“Para construir um ambiente favorável à indústria do petróleo, são indispensáveis segurança jurídica, segurança pública, educação qualificada, investimento em saúde e fortalecimento do empreendedorismo”, destacou.
Welberth também defendeu o investimento em pesquisa aplicada, alimentando um ecossistema de educação superior e falou que Macaé tem até sua Faculdade Municipal. O conhecimento deve ser pilar no desenvolvimento de soluções para os desafios locais. Ele lembrou que, atualmente, só de ISS, as empresas de óleo e gás deixam cerca de R$ 2 bilhões anuais na cidade.
“O petróleo é exigente. Eleva o padrão de vida, os salários e obriga que todos, inclusive prestadores de serviços, ofereçam benefícios como plano de saúde. Isso impulsiona a ampliação da rede hospitalar”, disse.
Rodrigo Vianna: Planejamento urgente para garantir o futuro
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Macaé, Rodrigo Vianna, reforçou que a base de tudo é essa indústria, que inevitavelmente chegará a Macapá. “Ela não anda mais no regime de urgência como antes. Ela vem planejada, mas quem não se antecipar vai perder. O petróleo não é nosso. É uma commodity como o dinheiro. Se não estivermos preparados, outros vão levar.”
Rodrigo destacou que o Brasil não pode perder novamente uma oportunidade desse porte. “Essa riqueza não pode ser desperdiçada.”
Ele traçou um cronograma projetando os passos para a exploração na Margem Equatorial:
- 2025: Início do planejamento e tramitação das licenças.
- 2026: Inclusão dos blocos no ciclo de oferta permanente.
- 2027: Assinatura dos contratos de exploração.
- 2028: Desenvolvimento da infraestrutura e início efetivo da operação dos campos.
“Mas atenção: de 2025 a 2028, essa indústria já estará se instalando. O processo já começou”, alertou.
As recomendações para Macapá
Rodrigo foi categórico em suas recomendações:
- Revisão imediata do Plano Diretor, da Lei Orgânica e da tabela de ISS, adotando a alíquota mínima de 2%, tornando Macapá competitiva.
- Fortalecimento da segurança jurídica, com processos digitais para garantir agilidade no licenciamento, vigilância sanitária e saneamento.
- Implementação da Lei de Liberdade Econômica.
- Criação de um mapa do emprego offshore, evitando desperdício de recursos com cursos desalinhados às reais necessidades.
- Formação de um corredor de projetos estruturantes, priorizando licenciamento rápido para obras estratégicas como portos e terminais.
“Se perderem o foco no licenciamento, vão perder negócios. A política é a maior ferramenta de transformação, mas ela precisa ser resgatada, precisa de credibilidade e confiança. Empresas não rasgam dinheiro”, afirmou.
A cooperação técnica e institucional é uma bússola para Macapá se tornar referência no norte. Foto: Junior Dantas
Uma oportunidade sem precedentes
O evento, considerado o mais pragmático e esclarecedor já realizado pela Prefeitura de Macapá sobre o tema, marca o início de um novo capítulo para o desenvolvimento da cidade e do estado. Se as palestras já foram um marco, imagine o que virá a partir da efetiva implementação do termo de cooperação, que torna Macapá protagonista da indústria de óleo e gás no Norte do Brasil.
Se o caminho for seguido com seriedade, planejamento e compromisso, o Amapá estará pronto para colocar, definitivamente, o Brasil no topo do desenvolvimento econômico mundial, impactando diretamente a qualidade de vida do seu povo.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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