Além de um governo corrupto e que censura adversários políticos, é uma gestão entreguista.
Meses atrás, o presidente Lula referiu-se ao IBAMA — órgão sob seu próprio governo — como protagonista nesse lenga-lenga relacionado à exploração de petróleo na Margem Equatorial. Mas, como eu já desconfiava desde o princípio, isso não passou de uma bravata para acalmar os ânimos daqueles que cobram uma decisão imediata do governo federal em favor do seu país.
Enquanto muitos ingênuos insistem em acreditar nas boas intenções desta gestão, cada vez mais me convenço de que o IBAMA e a ministra Marina Silva são os "costas largas" da história. Embora sejam de fato contrários à exploração, o objetivo não é confrontar o governo, mas sim agir com a sua anuência para dificultar e protelar ao máximo a exploração petrolífera na região amazônica.
Quando todas as desculpas já se tinham esgotado, todas as exigências foram cumpridas e nada mais restava a ser cobrado, Lula, durante uma visita à França, fez questão de reforçar o seu compromisso com as reservas marinhas. Declarou em Nice:
“Aqui em Nice, apresentamos sete compromissos voluntários relacionados à proteção de áreas marinhas, ao planejamento espacial marítimo, à pesca sustentável, à ciência e à educação, além de zerar o desmatamento até 2030. Vamos ampliar de 26% para 30% a cobertura de nossas áreas marinhas protegidas, cumprindo a meta do marco global para a biodiversidade. Também implementaremos programas dedicados à preservação dos manguezais e dos recifes de corais. Estamos formulando uma estratégia nacional contra a poluição por plástico nos oceanos. Há dez anos, Paris se tornou um marco para a governança climática. Hoje, Nice passa a integrar o caminho até Belém.”
No exato momento em que a COP 30 do Agro — que deveria permitir que os brasileiros discutissem o futuro do país — é cancelada, Lula concede à Europa a autoridade de decidir o nosso destino. Considera a Conferência do Clima de Paris, em 2015, um marco e legitima Nice como a verdadeira “pré-COP”, onde decisões sobre a Amazônia são tomadas à revelia da vontade do povo brasileiro e até mesmo antes da COP.
A voz do Brasil é silenciada, enquanto os interesses internacionais não só são ouvidos, como imediatamente atendidos. Pobres dos que ainda dormem em um berço esplêndido. Infelizmente, todos pagaremos caro por essa inércia.
É evidente que o Amapá está no centro das atenções. Não apenas pelo seu vasto potencial mineral, ainda proibido de ser explorado, mas também pelas suas jazidas de petróleo em alto mar — cuja estimativa aponta para um volume três vezes superior ao de Dubai, com qualidade também mais elevada.
Ninguém desconfiou do porquê de Alcolumbre ter sido o "escolhido" pelo sistema para presidir o Congresso neste exato momento da história? Ele vem justamente da região mais cobiçada do Brasil — uma região que, claramente, a França não está disposta a abrir mão. Além dele, o líder do governo no Congresso é do Amapá, bem como o ministro do Desenvolvimento Regional que governou o estado por 16 anos. O Brasil é mesmo o país das coincidências.
A esperança da população amapaense de que, por ter três figuras-chave em posições privilegiadas, finalmente poderá explorar suas riquezas, pode transformar-se em frustração durante a COP 30. A Europa, com a França à frente, prefere manter nossa região presa a um “subdesenvolvimento sustentável” — que eu chamo de miséria sustentável. Em troca, realiza acordos e promessas de investimentos com políticos como Lula e sua base, sem que tais recursos cheguem efetivamente ao destino.
Aquilo que aparenta ser uma vantagem pode, na verdade, ser parte de um plano maior — mais um boicote ao Estado do Amapá, sempre com as digitais do governo federal e a cumplicidade do governo estadual ao longo da história.
Se Lula já reclamou de Marina e do IBAMA, mas agora ele próprio oficializa seu compromisso com a França, o que esperar dos seus aliados do Amapá? A quem eles realmente servirão? Todos se dizem a favor do petróleo — até papagaio repete isso. Mas, na hora decisiva, abraçam-se à Europa com o velho complexo de vira-lata. Em vez de defenderem os interesses do Brasil e do Amapá — que possui uma riqueza incalculável — preferem continuar a receber “investimentos” externos que mantêm o país estagnado.
Se isso não é traição à pátria, sinceramente, não sei o que seria.
Por que o Amapá tem que continuar com o pires na mão, sendo um dos estados mais ricos em recursos naturais? Somos uma nação trilionária, mas seguimos escolhendo viver de esmolas.
Diante dos fatos e da pressa com que o presidente tem firmado compromissos entreguistas — com países que vão da França à China — alguém ainda duvida que, em 2022, Lula contou com uma força considerável de interesses externos para chegar onde está?
Enquanto “tirar plásticos dos oceanos” for mais importante do que tirar o povo da Amazônia do esgoto a céu aberto, não há como confiar nas boas intenções desses ambientalistas nem nos governos que lhes são submissos.
Hoje, plantar no Amapá é quase um crime. Em breve, qualquer ação fora dos acordos internacionais firmados por um governo irresponsável poderá tornar-se crime inafiançável. E não duvidem: eles avançam rapidamente para escravizar o povo dentro do seu próprio país.
Ou o Brasil acorda, ou continuará a viver — e morrer — sob o peso do complexo de vira-lata. E talvez até tenha que comer vira-lata, enquanto ajuda a implementar uma “governança global” que excluiu os seres humanos da equação e priorizou recifes e manguezais.
Só venceremos estes desafios se, juntos, olharmos para a Pátria e nos comprometermos com um Brasil verdadeiramente livre e próspero. Que o amor pelo nosso país seja mais do que uma canção, e que a missão de entregar um Brasil digno às próximas gerações seja, de fato, a prioridade desta geração.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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