Para o prefeito da capital, o Amapá precisa agarrar com unhas e dentes essa oportunidade de desenvolvimento.

 

O Amapá está no centro de um dos debates mais importantes do Brasil: a exploração de petróleo na Margem Equatorial. De um lado, a promessa de desenvolvimento económico, geração de emprego e transformação social. Do outro, desafios ambientais, pressões internacionais e uma série de questionamentos sobre o futuro da região, que possui mais de 90% do território preservado.

No meio desse cenário, surge uma das figuras políticas mais influentes do Amapá: o prefeito de Macapá, Dr. Furlan. Líder nas pesquisas para o governo do estado em 2026, com impressionantes 70% de intenção de votos — mesmo sem se declarar candidato —, Furlan tem adotado uma postura pragmática e técnica. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre os impactos econômicos, os cuidados ambientais e como planeja garantir que Macapá esteja preparada. E, enquanto cidadão amapaense, ele acredita que o estado não deve perder mais tempo diante de uma oportunidade histórica. Confira:

 

AG: Vamos falar de economia. Prefeito, o Amapá tem hoje uma das maiores taxas de preservação ambiental do mundo, com mais de 90% do território protegido. Como equilibrar essa vocação ambiental com a chegada da indústria de óleo e gás?

Dr. Furlan: Temos um estado altamente preservado, onde gerações e gerações fizeram o seu dever de casa. Temos as florestas primárias praticamente intactas, mas nós precisamos de desenvolvimento. Pessoas moram aqui. Temos 800 mil habitantes, segundo o último censo do IBGE, e a gente precisa ter oportunidades para nossos filhos e netos, para interromper essa triste história de ter que sair do estado para buscar oportunidades. Antes era em Belém. Agora é em Santa Catarina, no Sul do país.
Acredito que o Amapá fez o seu dever de casa. Há um respeito pelo meio ambiente, mas precisamos nos desenvolver, como acontece em tantos outros estados e países: produzir, industrializar e gerar oportunidades para as pessoas.

 

AG: O senhor é defensor do desenvolvimento econômico do estado. Que tipo de benefícios diretos a exploração do petróleo trará para a população de Macapá e do Amapá como um todo?

Dr. Furlan: Eu acredito no trabalho. Acredito que a única forma de mudar uma cidade, um estado, um país, a humanidade, é através do trabalho: geração de emprego, renda, oportunidade, formação do jovem, que ele busque o seu sustento, o seu alimento. Eu aprendi a pescar. É lógico que devemos preservar as pessoas que estão em vulnerabilidade social, isso sempre vai existir.
O Amapá precisa buscar várias vertentes. Aqui na prefeitura de Macapá, quando nós assumimos, não saía licença ambiental. E, através desse trabalho, da colocação de um juiz de direito aposentado — Dr. Walcir Marvulle —, hoje uma licença ambiental não demora mais do que 15 dias para sair em Macapá. Isso a gente ouve dos produtores. Se há hoje uma produção de grãos em Macapá, é devido à licença do município.
Com relação ao gás e ao petróleo, nós estimamos talvez uma grande transformação no estado do Amapá, com foco na transformação social. Porque todos sabem que a cadeia produtiva do petróleo é uma cadeia rica, pesada, que gera emprego e renda, e que muitas vezes causa instabilidade em outros setores económicos. Mas ela tem que vir com uma transformação social, de dar oportunidade ao nosso povo.
Não é um crescimento isolado, é um crescimento da cidade e do estado para as gerações, com investimentos em infraestrutura e em bases sólidas, para que a gente passe 30, 40, 50 anos explorando petróleo e depois faça essa transformação da matriz, tanto energética quanto produtiva. Então, a ideia é dar um boom de crescimento no estado do Amapá, com foco nas pessoas.

 

AG: Como o senhor enxerga a possibilidade de criação de um fundo soberano estadual, inspirado em modelos internacionais, para garantir que os recursos do petróleo sejam revertidos em educação, saúde e infraestrutura no longo prazo?

Dr. Furlan: Isso é de fundamental importância, para que não se repitam erros que ocorreram no passado, como tivemos aqui com a Icomi e o manganês. Hoje a gente tem a Estrada de Ferro abandonada. Então, precisamos pensar nesse período de 30, 40 anos para frente.
O fundo soberano é fundamental, com representatividade do governo do estado e das prefeituras, para que a gente invista no que precisa ser investido: educação, saúde e infraestrutura.

 

AG: O Amapá ainda enfrenta altos índices de desemprego e subemprego. A indústria do petróleo tem capacidade de gerar empregos locais? Há planos de qualificação para os amapaenses participarem dessa cadeia produtiva?

Dr. Furlan: Amanhã vamos receber uma comitiva da cidade de Macaé (RJ), que é conhecida como a capital brasileira do petróleo. Teremos dois momentos: pela manhã, o prefeito Welberth Rezende e o secretário de Desenvolvimento Económico, Rodrigo Viana, vão palestrar sobre “Assim é Macaé” e “O que Macaé fez para se preparar para o petróleo e o que vem fazendo nesses 40 anos”.
À tarde, teremos um marco histórico, onde vamos assinar um termo de cooperação com Macaé. E o que diz esse termo? Vamos captar a experiência de Macaé na formação e capacitação dos nossos jovens, na estruturação da gestão pública, na organização da cidade.
Visitar Macaé é fundamental para entender. Como você mesmo me dizia antes, há um grande desarranjo quando começa, então a gente precisa estar minimamente preparado e organizado. Quando essa cadeia produtiva do petróleo começar a girar, a gente não pode sofrer tanto.
Como você falou, são bons salários, muitas vezes desestabilizam outros setores e negócios. A gente precisa cuidar da cidade de forma macro. Então, com esse termo de cooperação, a gente passa a ter uma bússola, um guia, um passo a passo a ser seguido com quem já fez ou vem fazendo há 40 anos.

 

AG: Como o senhor avalia o papel dos municípios, especialmente Macapá, na construção de um ambiente seguro e eficiente para atrair investimentos no setor de petróleo e gás?

Dr. Furlan: A participação das cidades é de fundamental importância. As pessoas moram nas cidades. Por exemplo, Macapá tem praticamente 60% da população do estado.
Nós precisamos nos estruturar para que as empresas venham, se instalem e possam trazer outros segmentos. Porque, veja só: se vamos ter um grande investimento no Amapá, na Margem Equatorial, precisamos de mais hotéis, de mais parques industriais, de espaços de coworking, de vários locais para essa equipe toda trabalhar.
E também precisamos pensar no turismo, porque as pessoas vêm para trabalhar, mas há o turismo de eventos, de negócios. Como Macaé fez? Macaé aprendeu que precisava investir em turismo também, e isso fez com que ela crescesse de forma macro.

 

AG: Agora, falando de aspectos ambientais. Sabemos que a Margem Equatorial é sensível do ponto de vista ambiental. O senhor acredita que a exploração de petróleo pode ser feita de forma segura, sem comprometer os biomas locais e a costa amazônica?

Dr. Furlan: Acredito. Com certeza. Nós nunca tivemos um acidente com a Petrobras. Essa exploração em águas profundas é feita no Rio de Janeiro, na Bacia de Campos, e em outros locais.
Então, nós temos sim o direito de explorar uma riqueza que vem para transformar a vida das pessoas que moram prioritariamente no estado do Amapá e, lógico, no Brasil inteiro. Com responsabilidade ambiental, que é fundamental, fazendo o dever de casa, é possível, sim, explorar.

 

AG: Há críticas de que a exploração de petróleo poderia impactar diretamente a biodiversidade marinha e os modos de vida tradicionais. Como sua gestão enxerga e responde a essas preocupações?

Dr. Furlan: Com muita responsabilidade e bom senso. Todos os testes estão sendo feitos. O que o Ibama tem solicitado, o governo federal tem cumprido, e a Petrobras também.
Então, é possível, sim, avançar e fazer a exploração de forma segura.

 

AG: Na sua opinião, há uma demonização seletiva contra a exploração de petróleo na Amazônia, enquanto outras regiões do país e do mundo exploram seus recursos sem a mesma resistência?

Dr. Furlan: Feito o passo a passo, é possível extrair com segurança.

 

AG: O Amapá já contribui muito com a preservação ambiental nacional. O senhor acredita que é justo que o estado continue sendo apenas “guardião da floresta”, sem acesso aos recursos que podem transformar a vida da sua população? Inclusive, sem acesso ao saneamento básico?

Dr. Furlan: Na verdade, o Amapá faz o dever de casa. Tem o direito de explorar o petróleo com responsabilidade social e ambiental — e mais do que isso.
É importante deixar isso muito claro: a exploração do petróleo na Margem Equatorial não é só para o Amapá. É para o Brasil. O Brasil precisa de uma nova fonte de petróleo, e essa fonte está aqui no Amapá, que é a Margem Equatorial.
Nós temos aqui do lado a Guiana, que cresce 600% do PIB anualmente com a exploração. Então, é a mesma margem. Se já estão explorando petróleo no país vizinho, nós temos o direito de explorar aqui também.

 

AG: Prefeito, há quem diga que há interferência direta de ONGs internacionais no Amapá, tentando travar projetos de desenvolvimento em nome da proteção ambiental. Houve uma CPI das ONGs que apontou isso. Qual a sua visão sobre esse tipo de atuação? Isso representa uma ameaça à soberania e ao desenvolvimento do estado?

Dr. Furlan: Acredito que nós temos um Ibama que exige um passo a passo, que está sendo seguido pela Petrobras, e tão logo a gente consiga finalizar isso, não haverá mais motivos para não termos o licenciamento. A partir daí, vamos fazer a extração.
Nessa questão, eu não entro.

 

Se preferir, assista a entrevista completa:

 

AG: Com mais de 70% de intenção de votos para 2026, caso o senhor venha a assumir o governo do Amapá, qual será sua prioridade na pauta do petróleo? Desenvolvimento, preservação ou é possível fazer os dois?

Dr. Furlan: Primeiro, tenho que deixar claro que eu sou prefeito de Macapá. Existe um calendário eleitoral e, lá na frente, a gente discute a eleição de 2026.
Agora, como cidadão amapaense, minha opinião é que devemos, sim, explorar o petróleo. Essa riqueza é do Amapá e do Brasil como um todo. Há uma necessidade de segurança energética, de crescimento do país nas suas receitas, dando uma vida melhor e uma transformação à população.
Isso pode ser feito, e é o que a Petrobras faz com maestria, com muita responsabilidade e respeito ao meio ambiente.

 

AG: O evento “Conexão Petróleo – Macaé/Macapá” será um marco. Como esse intercâmbio com cidades que já vivem essa realidade pode acelerar a preparação de Macapá e do Amapá para o futuro?

Dr. Furlan: Acredito que é fundamental que a gente busque aprender com quem já viveu essa instalação, com seus problemas, seus sucessos, e que está disposto a nos ensinar.
Fizemos um contato com Macaé, com o prefeito Welberth Rezende, que foi muito receptivo à nossa solicitação, junto com o secretário Rodrigo Viana, e que estará aqui para abrir as portas para Macapá, para o Amapá e para as cidades vizinhas — Santana, Mazagão, Oiapoque —, para que a gente aprenda com a experiência de mais de 40 anos.
Acredito que isso se torna uma bússola, um direcionamento, para que, a partir desse termo, a gente consiga avançar, faça também uma visita técnica a Macaé, e esteja mais preparado para esse momento que, eu entendo, não será tão distante. Em breve, teremos o início das pesquisas para que, num curto espaço de tempo, comecemos a explorar petróleo aqui no Amapá.

 

AG: O senhor tem feito muito com poucos recursos. Quando assumiu a prefeitura no primeiro mandato, há quem diga que o senhor encontrou o cofre cheio e preparado para ser usado pelo seu concorrente, e, surpreendentemente, esse privilégio acabou caindo em suas mãos. Isso é verdade ou é fake news? Porque muitos se perguntam como o senhor começou já fazendo tantas obras e, até hoje, não para. Houve essa sorte?

Dr. Furlan: Na verdade, desde que eu assumi, a nossa equipe tem trabalhado de domingo a domingo. Nós não perdemos nenhuma emenda de nenhum parlamentar. Nós garantimos a contrapartida, muitas vezes até maior do que era, para poder fazer a obra, gerar emprego, gerar renda.
Então, a gente vem trabalhando dentro do que é possível fazer, com muita responsabilidade, cortando na carne, para que o trabalho nunca pare.
Eu costumo dizer que, num município, num estado, num país, a máquina pública é a mola do desenvolvimento. Se eu sou o prefeito e asfalto essa rua, o comerciante diz: “Vem mais gente aqui e agora eu vou contratar mais um funcionário.” E, dessa forma, a gente tem feito.

 

AG: No caso, há uma grande chance de o petróleo se tornar esse cofre cheio, com os royalties. E o senhor, sendo o governador nesse novo cenário, a população, que aprova seu mandato na capital e torce pelo senhor no governo, tem a expectativa de que, nas suas mãos, esses recursos serão bem empregados, sem enrolação e com muito trabalho — que é sua característica e de sua equipe. Como o senhor se vê diante desse desafio e desse enorme privilégio, do ponto de vista financeiro, já que o Amapá se tornará um dos estados mais desenvolvidos, com um dos maiores PIBs?

Dr. Furlan: Vou repetir que eu sou prefeito de Macapá. E, como cidadão amapaense, acredito que é uma grande oportunidade de fazer investimentos em obras de infraestrutura, que são fundamentais para o desenvolvimento.
Não só para o período do petróleo, mas é uma chance de ouro para virar a chave do desenvolvimento. O Amapá é um estado que tem uma localização geográfica maravilhosa. Aqui é fronteira com a Europa, pela Guiana Francesa, próximo dos Estados Unidos.
Nós temos uma oportunidade gigante de mudar a história do Amapá e de se tornar um estado rico. Mas, para que isso aconteça, a gente precisa trabalhar muito. Porque meu pai dizia assim: “Deus ajuda todo mundo, mas quem acorda cedo, ele ajuda mais.”

 

AG: Mudando um pouco de assunto, antes de terminar a entrevista: como o senhor aguenta esse pique? Conte qual é o segredo.

Dr. Furlan: Primeiro, você tem que ser disciplinado em tudo que faz. Focar em querer fazer e transformar o seu trabalho em algo prazeroso. E isso eu realmente gosto. Gosto muito de trabalhar.
Eu me sinto bem trabalhando. Tenho uma vida regrada: durmo cedo, acordo cedo, pratico atividades físicas com muita frequência, praticamente todos os dias. Assim, a gente consegue ter uma saúde mental e física, que é importante para tocar esse dia a dia, que não é fácil.
O prefeito é um grande zelador da cidade, que cuida de tudo e tem que estar presente. Eu pouco saio de Macapá. Quando vou a Brasília, vou num dia e, quando dá, volto no mesmo dia. Quando não dá, volto no outro dia cedo. Tiro poucas férias. É importante dizer isso para que a gente cuide cada vez mais da cidade.

 

AG: Por fim, qual é a mensagem que o senhor gostaria de deixar para os amapaenses, cuja maioria vê no petróleo uma oportunidade, mas também há uma parcela que carrega receios quanto aos impactos ambientais?

Dr. Furlan: Nós estamos tendo uma oportunidade única, gigantesca, de mudar a história do Amapá, tornando o estado produtivo, rico e transformando a vida das pessoas.
Nós temos um estado muito bem localizado geograficamente, mas que sofre com o isolamento por terra. Então, temos muitas dificuldades na industrialização, em trazer fábricas para cá.
E Deus sempre abençoa. Nós estamos tendo uma oportunidade gigantesca. Essa oportunidade vai acontecer assim que todos os estudos passarem e mostrarem, até para aqueles que são resistentes à exploração, que não teremos danos à Amazônia, às florestas, ao povo que mora aqui, aos ribeirinhos.
Feito isso, passada essa fase, nós, cidadãos amapaenses, precisamos agarrar essa oportunidade com unhas e dentes e trabalhar. Trabalhar. O sol nasce para todos, mas a gente precisa trabalhar e transformar toda essa cadeia produtiva em oportunidades para o nosso povo.
Aquele menino que tem 15 anos, que começa a se preparar para fazer engenharia, para fazer um outro curso de petróleo e gás, se preparar para um mercado que é novo, que hoje nós não temos. A gente precisa formar gerações.
Acredito que é, sim, uma oportunidade muito grande, que a gente tem que agarrar com unhas e dentes, trabalhar muito para desenvolver e mudar a vida da população.

 

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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