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Ex-agente da CIA palestrou para autoridades judiciais, militares e da segurança pública, no auditório do TJAP

Tim Ballard, ex-agente da CIA e fundador da Operation Underground Railroad, organização que combate o tráfico humano e a exploração sexual infantil, desembarcou em Macapá no dia 7 de julho com um propósito claro: unir forças para proteger as crianças da Amazônia.

Sua vinda foi articulada pela deputada federal Silvia Waiãpi, que o conheceu pessoalmente um mês antes e relatou a grave situação da pedofilia e do tráfico humano na região Norte, especialmente em estados de fronteira como o Amapá.

Sob a liderança da OAB/AP, representada pelo presidente Dr. Israel da Graça, e pelo presidente da Comissão de Meio Ambiente, Dr. Thoni Furtado, dois grandes eventos marcaram a agenda de Ballard. Pela manhã, no auditório do Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), autoridades do Judiciário, das forças armadas e da segurança pública estiveram presentes. À noite, foi a vez da OAB sediar uma palestra impactante, seguida da transmissão inédita de um novo documentário da equipe de Ballard, que mostra operações de resgate em zonas de guerra como a Ucrânia. O conteúdo fará parte do roteiro de um próximo filme.

Quem esteve presente em ambos os momentos saiu profundamente tocado. Muitos não conseguiram conter as lágrimas diante do chamado urgente à ação.

Tim Ballard fundou a Operation Underground Railroad em 2013 após deixar seu cargo de agente especial do governo dos EUA, onde atuava diretamente em casos de exploração infantil. Em Macapá, veio acompanhado de sua equipe, com tradução feita por Lidiane “Lili” Pacheco, relações públicas e comunicadora política radicada nos Estados Unidos.

UM CHAMADO À CONSCIÊNCIA

A abertura da programação no TJAP foi feita pelo desembargador Rommel Araújo, presidente da Escola Judiciária do Amapá (EJAP):

“A EJAP tem a honra de trazer Tim para esta casa. Aqui, ele deve se sentir em casa, pois sua luta é também a luta do Judiciário. Estaremos de mãos dadas com a OAB, o Congresso Nacional, o Executivo e o Legislativo na proteção das nossas crianças.”

Em seguida, o presidente do TJAP, desembargador Jaime Ferreira, destacou o compromisso coletivo ali presente:

“O que nos reúne hoje toca o que há de mais essencial: nossa humanidade. O tráfico humano exige de nós mais do que preocupação – exige ação. Este momento é um chamado à consciência e à justiça.”

Ele ressaltou a relevância social da palestra e da presença de Ballard: “Vivemos tempos em que as fronteiras foram dissolvidas pela tecnologia, e isso, infelizmente, também fortaleceu o crime organizado. O tráfico de pessoas – sexual, laboral, infantil – é uma chaga que exige vigilância e articulação. A presença da OAB foi decisiva para este evento.”

Citando Leandro Karnal, completou: “A ética nos dá serenidade interior. A trajetória de Tim Ballard, sua coragem e dedicação em resgatar vidas, nos inspira profundamente. Sua presença aqui nos fortalece.”

E concluiu com firmeza: “Não há justiça onde a infância é violada. Não há liberdade onde corpos são vendidos. E não há democracia onde a dor é ignorada. Mister Tim, nos transforme.”

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Presidentes do TJAP, EJA e da OAB/AP organizaram a Palestra internacional com Tim Ballard, em Macapá

O ALERTA DE BALLARD

Durante sua fala, Tim Ballard foi direto: “O tráfico de crianças é o crime que mais cresce no mundo. Os traficantes buscam crianças que estão perdidas não só fisicamente, mas oficialmente. Muitas, na Amazônia, nem certidão de nascimento têm.”

Ele revelou números alarmantes: “Na fronteira da República Dominicana, 300 mil crianças foram traficadas para a Europa. Um coração infantil pode ser comprado por até 200 mil dólares no mercado negro.”

Ballard afirmou que o Brasil está entre os cinco países com maior incidência desse tipo de crime: “É muito fácil pegar uma criança aqui. Por isso, é hora de agir.”

Ele também anunciou que retornará ao Amapá em agosto para iniciar a construção de um centro de acolhimento e reabilitação para crianças resgatadas: “Se não criarmos esses centros, elas acabarão sendo levadas para novos ciclos de abuso. O que queremos dar a elas é esperança.”

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Lili Pacheco, brasileira radicada nos EUA, faz parte da comitiva como tradutora do Tim Ballard.

UM CHAMADO ESPIRITUAL

Ballard destacou o papel espiritual da missão: “Cristo é o Príncipe da Paz, mas foi Ele quem disse: ‘Melhor seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e lançar-se ao mar do que fazer tropeçar um destes pequeninos.’ Isso mostra a seriedade com que Ele vê o abuso infantil. E é assim que nós também devemos ver”.

E completou: “Deus está vendo o que nós não vemos. Ele guia nosso caminho e enviará anjos para encher a Amazônia até que todas as crianças sejam resgatadas. Porque os filhos de Deus não estão à venda.”

FAMÍLIA COMO BASE

Ao ser perguntado por uma jovem policial sobre como ajudar, Ballard foi categórico: “Deus criou a família como a primeira linha de proteção das crianças. Quando não há família, precisamos ser essa família para elas.”

Ele relatou que sua esposa criou a fundação “Crianças Precisam de Famílias” após compreender a necessidade de oferecer lares para crianças resgatadas: “Nosso objetivo número um é encontrar famílias. Mas o objetivo intermediário é construir centros com espírito de lar, com pessoas daqui, da Amazônia. Não vou trazer estrangeiros para administrar. Precisamos formar uma verdadeira família para essas crianças.”

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"Sílvia é aquela que foi abusada e hoje é uma espada contra abusadores" Tim 

MAIS “SÍLVIAS” NA AMAZÔNIA

Ballard elogiou a deputada Silvia Waiãpi, afirmando que ela é um exemplo de superação: “Ela sofreu abuso, venceu, serviu ao Exército, virou liderança e hoje é uma espada contra os abusadores. Precisamos de mais ‘Sílvias’ na Amazônia.”

UMA DECISÃO DE FÉ

Questionado sobre por que deixou o governo dos EUA, Ballard revelou: “Deus me mandou sair. Mas eu fui covarde. Foi minha esposa quem me despertou. Ela disse: ‘Eu não vou deixar você colocar em risco a minha salvação ao não fazer isso.’”

Ele contou ainda a história de Miguel, uma criança mexicana resgatada, que lhe deu um colar com seu nome que ainda hoje ele tem guardando. Miguel foi resgatado, mas disse que não pertencia aos EUA.

“Aquilo me fez entender que meu trabalho não podia ter fronteiras. E eu não poderia ficar trabalhando para o governo, limitado. Eu defendo a soberania de cada país. Mas só que crianças não entendem o conceito de fronteira, e traficantes não respeitam fronteiras. Por isso, meu trabalho agora é global.”

UM NOVO COMEÇO PARA O AMAPÁ

A palestra de Tim Ballard foi considerada impactante. O apoio de sua fundação poderá representar uma virada na luta contra o tráfico humano no Amapá, com a criação de estruturas permanentes para o acolhimento das vítimas, com base no princípio mais forte da infância: pertencer a uma família.

Assista a palestra completa abaixo.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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www.palavrasdeadrianagarcia.com

 

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