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 br porto grande

Manifestantes na BR 210 no Amapá pedem ao poder público o básico: asfalto.  Basta de poeira, lama e mortes.

Uma fotografia do abandono e da falta de planejamento

Com a paralisação da BR-210, no trecho que liga Porto Grande a Pedra Branca do Amapari e Serra do Navio, foi possível ter uma fotografia clara da qualidade da classe política no estado e da completa falta de planejamento, gestão e responsabilidade com o real crescimento da região. Uma região rica por natureza, mas cujo povo amarga péssimas condições de vida, que vão desde a ausência de asfalto até a triste estatística de mais de 70% da população depender de algum tipo de benefício social. São várias gerações vivendo — ou, na verdade, sobrevivendo — sem o mínimo de dignidade.

Riqueza extraída, pobreza mantida

A população se queixa de que, na região, suas riquezas são extraídas enquanto ela não tem direito sequer a uma estrada asfaltada e segura. Coincidentemente, o governo do estado anunciou que haverá a retomada da exploração de minérios em Pedra Branca do Amapari a partir de 2026. Como uma atividade desse porte poderá se desenvolver sem que a BR-210 esteja asfaltada? Essa não é a lógica de quem faz gestão, de quem planeja, tampouco de quem sabe priorizar a infraestrutura necessária para dar suporte aos investimentos que anuncia.

Mineração anunciada sem estrada: a lógica invertida do poder

Não há como falar em desenvolvimento quando a base logística é ignorada. Anunciar investimentos sem garantir infraestrutura básica é repetir erros históricos que mantêm a região refém de promessas vazias e discursos desconectados da realidade.

BR-156: a obra eterna que expõe o fracasso da gestão

Faço a mesma crítica, por exemplo, em relação à BR-156, que liga a capital ao Oiapoque e que será a base imediata principal da exploração de petróleo. Os governantes atuais são os mesmos que já sabiam dessa exploração desde 2012, mas nunca concluíram um trecho dessa rodovia, que é, inclusive, a obra pública mais antiga e inacabada do país. Para mim, isso é um completo contrassenso. Como acreditar que esse grupo trará desenvolvimento se não priorizou o asfalto, fator imprescindível para que qualquer atividade econômica tenha êxito?

Desenvolvimento prometido, infraestrutura negligenciada

O discurso do progresso não se sustenta quando o básico não é entregue. Sem estrada, não há integração, não há competitividade e não há crescimento real.

Corrupção, improviso e o custo humano do descaso

Por que as coisas aqui precisam acontecer sempre aos trancos e barrancos? Não há qualquer respeito pelo dinheiro público nem pela pessoa humana. O que sobram são escândalos de corrupção. Parece algo tão comum e generalizado que chega a ser difícil imaginar como a população conseguirá se desvencilhar desse ciclo vicioso.

O êxodo silencioso de quem perdeu a esperança

Não é à toa que muitos já desistiram e migraram para o sul do país em busca da oportunidade e da dignidade que não encontram em sua própria terra. Será que não há interesse político no real desenvolvimento do estado, em integrá-lo ao restante do país e oferecer às pessoas uma perspectiva de futuro? Será que o plano é esvaziar a região para entregá-la de vez aos interesses internacionais?

Um estado rico, um povo mantido dependente

Somos cerca de 800 mil habitantes e temos o privilégio de viver em uma terra fértil, rica em minerais, bela e promissora. No entanto, as escolhas políticas de um povo mantido dependente comprometem o presente e o futuro de forma cada dia mais irreversível.

Energia cara, contratos ruins e leis que penalizam o povo

Como o estado será atrativo tendo uma conta de energia que se torna, a cada dia, mais impagável para o povo? Em um momento são contratos mal feitos; em outro, leis aprovadas sem considerar as consequências. Somando tudo, quem paga a conta é sempre a população.

O voto, a estrada esburacada e a conta impagável

É necessário que o povo consiga fazer a ligação entre seu voto e sua conta de energia; entre seu voto e a estrada intrafegável; entre seu voto e a falta de saneamento básico. Tudo pode ser mudado a partir dessa reflexão e de uma mudança consciente na escolha de seus representantes, pois os atuais, em sua maioria, representam seus próprios interesses, e não os do povo. A falta de intenção, conhecimento e preparo desses representantes está custando muito caro a quem mora aqui.

O retrato do desperdício: obras mal feitas e refeitas

Eu passo todos os dias pela famosa Rodovia JP, que o governo apelidou de “Jotapete” na época da Expo-Feira, quando foi entregue de qualquer jeito. Hoje, esse suposto tapete está cheio de crateras, buracos profundos e mal sinalizados, que podem causar acidentes graves a quem transita pela via. Primeiro, colocam o asfalto; depois, quebram o asfalto para instalar os tubos. É uma lógica impossível de explicar em qualquer aspecto — seja no uso do tempo, seja no desperdício de recursos.

Promessas, maquetes e a paciência que se esgotou

A sensação é que o lema seja: se podemos demorar, por que entregar no prazo? Se podemos gastar mais fazendo e desfazendo, por que planejar as etapas e executá-las corretamente, evitando retrabalho e economizando dinheiro público?

Quando o povo começa a exigir gestores melhores

Um estado conduzido sem responsabilidade com o erário e sem respeito pela população não consegue se preparar para as oportunidades. E a culpa recai tanto sobre as escolhas do povo quanto sobre os escolhidos pelo povo, que negligenciam prioridades, manipulam a população a partir de suas necessidades pessoais e empurram com a barriga um trabalho que deveria ser feito com seriedade, diligência e entrega.

O povo não quer mais promessas nem maquetes. A paciência se esgotou, e as pesquisas eleitorais são a prova de que o cálice transbordou. Se o povo tem o governo que merece, tudo indica que agora o povo quer fazer por merecer gestores e legisladores melhores. E, se ainda tivermos uma democracia no próximo pleito, as chances de uma demissão em massa são grandes.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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