Marina usou a audiência para se vitimizar, se autoelogiar, defender ICMBio, Ibama, João Paulo Capobianco e Lula.
Nesta quarta-feira (02), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, compareceu à Câmara dos Deputados para prestar esclarecimentos sobre uma série de temas polêmicos: os impactos ambientais da construção de uma rodovia para a COP 30 em Belém (PA), sua participação no Acampamento Terra Livre em 10 de abril de 2025 — no contexto de atos antidemocráticos —, o aumento das queimadas desde 2010 e seus impactos no agronegócio, o recorde de degradação da Amazônia Legal, a morosidade na liberação de novos defensivos agrícolas, entre outros assuntos.
Diferente da audiência anterior no Senado, desta vez Marina foi convocada, e não apenas convidada. A sessão foi conduzida pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL/MS) e durou quase sete horas, com a presença de dezenas de parlamentares da base governista e da oposição.
Apesar de momentos de tensão — especialmente causados por embates entre oposição e governistas —, a audiência foi marcada por respostas evasivas, discursos ideológicos e poucas novidades. Parlamentares afirmaram que o momento, que deveria representar uma prestação de contas, se tornou um palco para autoelogios e defesa do governo.
Conduzida pelo Dep. Rodolfo Nogueira (PL/MS), a audiência durou quase 7 horas, e foi improdutiva pela postura da Ministra.
Defesa incondicional dos órgãos ambientais e ausência de autocrítica
Durante sua fala, Marina Silva defendeu veementemente os servidores do Ibama e do ICMBio, afirmando que atuam dentro da legalidade. Rejeitou qualquer indício de arbitrariedade, apesar de parlamentares apresentarem manchetes e denúncias que apontam o contrário.
Sobre o polêmico caso da concessão do Parque Nacional de Jericoacoara, onde uma empresa ligada ao irmão do secretário-executivo do MMA venceu a licitação, o deputado Rodolfo Nogueira confrontou a ministra:
“Isso é inaceitável. A senhora vai se calar sobre isso? Vai fingir que está tudo normal?”
Marina, por sua vez, exaltou o secretário João Paulo Capobianco, afirmando que ele abriu mão de uma vida de privilégios para ser biólogo. Disse que o processo licitatório ocorreu de forma técnica e que o ICMBio teve autonomia total.
Com João Paulo Capobianco ao seu lado, Marina o defendeu, o elogiou e disse que a licitação do ICMBio foi isenta.
Defensivos agrícolas, queimadas e contradições
Em relação aos defensivos agrícolas, Marina afirmou que o Ibama tem autonomia para analisar novos produtos, baseando-se em critérios de saúde pública, ambiental e benefícios ao produtor. Segundo ela, Lula regulamentará a Lei do Agrotóxico e o Ibama atua conforme a legislação.
Sobre o aumento das queimadas, a ministra reconheceu que 2024 registrou alta, mas relativizou, apontando que o fenômeno foi global e causado por mudanças climáticas. Ela exibiu gráficos em PowerPoint e destacou investimentos de quase R$ 1,5 bilhão no combate ao fogo, com mais de 3.500 brigadistas em campo.
O plano safra e a narrativa da bioeconomia
A ministra destacou que o plano safra prevê investimento de mais de R$ 400 bilhões para a agricultura e R$ 80 bilhões para a agricultura familiar. Os juros, segundo ela, serão de 4% para práticas sustentáveis, como uso de bioinsumos e respeito à reserva legal.
Marina aproveitou para voltar ao tema dos “atos golpistas” de 8 de janeiro, dizendo que o Brasil está sendo visto no exterior como um país onde o agronegócio financiou atentados à democracia.
Acusações duras da oposição
O deputado Rodolfo Nogueira foi enfático:
“O desmatamento aumentou 482% enquanto a senhora participa de eventos internacionais como se fosse a paladina da sustentabilidade. Agora a culpa é de São Pedro? Aqui o mato pega fogo e sua resposta é silêncio ou burocracia.”
Ele também questionou o suposto desmatamento para a estrada da COP 30 e os critérios para o confisco de mais de 9 mil cabeças de gado, acusando o governo de perseguição ao produtor rural.
“O agricultor é tratado como inimigo e não como parceiro da preservação. O campo está sendo abandonado enquanto seu ministério debate normas em salas refrigeradas. Já enfrentou um bando de javalis para proteger sua lavoura?”
Ao ser questionada, Marina ignorou o sofrimento das famílias de agricultores na Amazônia e defendeu, veementemente, a postura do Ibama.
Participação nos atos de 10 de abril e questionamento ético
Rodolfo Nogueira também confrontou Marina Silva sobre sua participação no Acampamento Terra Livre, em 10 de abril:
“A senhora classificou o 8 de janeiro como golpe, mas este do dia 10 de abril, com o mesmo modus operandi, não. A sua indignação depende de quem são os autores? A senhora falhou com o meio ambiente, falhou com o produtor rural e falhou com o Brasil.”
Marina rebate e exalta conquistas do governo Lula
Marina afirmou que a licença para a estrada da COP 30 é de responsabilidade do estado do Pará. Disse que o Ibama só atua em terras federais, indígenas ou de fronteira.
Defendeu a atuação do governo Lula, que segundo ela, aumentou em 96% a fiscalização do Ibama, o ICMBio aumentou sua capacidade de fiscalização em mais de 200%, retomou o Fundo Amazônia e o Plano de Combate ao Desmatamento e reduziu em 46% o desmatamento na Amazônia e 32% no restante do país
Ela afirmou ainda que 2,6% dos imóveis rurais concentram 60% das irregularidades, e que o agronegócio do “bem” está crescendo:
“O desmatamento caiu e o agro cresceu 15%. A renda per capita cresceu 11%. Quem está fora da lei é minoria.”
Nova leva de críticas: hipocrisia internacional e radicalismo ideológico
O deputado Evair Vieira de Melo (PP/ES) fez críticas contundentes:
“A discussão com a ministra é inócua. Ela repete dados como um adestramento ideológico. Sua retórica é a de Saul Alinsky: pressão contínua, tática do ridículo, do enfrentamento.”
Evair acusou Marina de ter uma postura alinhada a movimentos internacionais da esquerda e de sustentar incoerências:
“A senhora é contra explorar potássio na Amazônia, mas consome o potássio do Canadá. Contra a exploração de fertilizantes do Brasil, e importa da Rússia, onde o seu governo é aliado do Putin.
Denúncias de perseguição ao agro e omissões no Brasil real
Parlamentares acusaram Marina de ter abandonado regiões como Apuí, onde famílias sofrem perseguições do Ibama, manter regras ambientais desconectadas da realidade, usar as ONGs como “braços ideológicos” e não prestar contas dos recursos do Fundo Amazônia, e ter uma postura seletiva e ideológica frente às queimadas e à exploração mineral.
“Seu ministério é ineficaz. O Ibama virou indústria da multa. A senhora votou contra o saneamento, mas fala de meio ambiente. A incoerência do seu discurso nos irrita.” Dr. Evair Vieira.
Ministra Marina Silva responde ao deputado Evair Vieira de Melo
A ministra iniciou sua resposta dizendo: “Fiz uma longa oração e pedi a Deus que me desse calma e tranquilidade, pois sabia que estaria diante daqueles que abrem porteiras para o negacionismo, para a destruição ambiental, para o racismo e para o fascismo. Creio que Deus me ouviu, porque estou em paz. Aprendi com o apóstolo Paulo que é preferível sofrer uma injustiça do que praticá-la.”
Marina afirmou que não entraria em uma análise de discurso, mas pontuou que estudou psicanálise e análise discursiva com Lacan e Ricardo Rosemberg, e, com base nesses conhecimentos, respondeu ao deputado: “Você não se revela no que o outro diz sobre você, nem no que ele diz sobre si. A verdadeira revelação ocorre quando, ao tentar descrever o outro, ele revela a si mesmo. E o senhor se revelou.”
Sobre a menção ao município de Apuí, Marina reconheceu que nunca esteve lá, mas lembrou que sob sua gestão foi realizada uma concessão florestal de mais de 400 mil hectares na região, com manejo sustentável, tecnologia, geração de empregos com carteira assinada e preservação da floresta:
“Vamos gerar mais de 9.200 empregos diretos e arrecadar mais de R$ 32 milhões por ano em benefícios para o município. Aqueles que me acusam, quantos empregos já geraram em Apuí?”
Ela fez um breve relato de sua trajetória pessoal, destacando que chegou a São Paulo pela primeira vez em 1979, com uma passagem só de ida para tratar da saúde, e hospedou-se na casa de uma assistente social:
“Sou uma mulher de 67 anos, que já teve três hepatites, cinco malárias, uma leishmaniose, contaminação por metais pesados. Fui analfabeta até os 16 anos. Estar aqui é fruto da generosidade de Deus, do povo brasileiro e da educação. Sou movida por ideais, não por interesses.”
Sobre ser deputada eleita por São Paulo, disse que considera uma honra e rejeitou as acusações de incoerência:
“A Frente Ampla elegeu o presidente Lula para salvar a democracia. Só enxerga a história quem deseja vê-la. Há um fenômeno chamado negacionismo que recusa os fatos.”
A ministra também respondeu às críticas sobre a BR-319:
“Estamos falando de 400 km no coração da floresta, e não de 13 km como é o caso do Pará. Por que não a construíram durante os quatro anos em que ‘abriram a porteira’? Agora querem um bode expiatório e jogam a responsabilidade no meu ministério. Mas estou tranquila. Que Deus julgue entre mim e vossa excelência.”
Ministra Marina foi beligerante perante o parlamento brasileiro, mas é subserviente perante os organismos internacionais.
Resposta do deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES)
Evair respondeu com ironia:
“Amém, aleluia. Lacan dizia que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. A senhora é craque em metáforas, metonímias, trocadilhos e falhas na linguagem que omitem informações e constroem um discurso para influenciar o consciente coletivo.”
Ele criticou a ministra por supostamente se esquivar de responder objetivamente às perguntas, usando sempre discursos treinados e ensaiados:
“A senhora faz uma análise do discurso que a conforta. Fala para a câmera, para a militância, e não responde aos parlamentares. A senhora é treinada em repetições, em adestramento ideológico. Mas não é melhor nem pior que ninguém. É apenas mais uma brasileira, como tantas outras anônimas que fizeram muito pelo país.”
"O seu partido e seu governo votaram contra o maior poluidor desse país que é a falta de saneamento básico." Dep. Evair
Deputado Gustavo Gayer (PL-GO)
O deputado reconheceu a trajetória da ministra na defesa ambiental, mas questionou suas contradições:
“A senhora fez graves acusações contra o Lula no passado. O que mudou? A Marina dos anos 80 e 90 não aceitaria participar de um governo como este, nem permitiria a construção de uma rodovia rasgando a Amazônia para sediar a COP 30.”
Gayer também apontou a contradição entre a pauta ambiental e decisões do governo: “Por que aumentar impostos sobre energia solar e veículos elétricos, se isso vai na contramão do combate às mudanças climáticas? Por que se aproximar da China, maior poluidor do mundo, sem cobrar contrapartidas ambientais?”
Ele ainda questionou os repasses a ONGs:“Foram R$ 315 milhões para ONGs, enquanto o Ibama enfrentava problemas financeiros. Qual o critério para essa escolha?”
Deputado Zé Trovão (PL-SC)
O parlamentar criticou duramente a ministra, destacando a suposta incoerência entre seu discurso ambiental e sua atuação prática. Apontou desigualdade nos repasses federais entre Santa Catarina e Acre:
“O PIB de SC é 20 vezes maior que o do Acre, mesmo com metade do tamanho e condições climáticas menos favoráveis. O que explica essa diferença?”
Acusou a ministra de priorizar ONGs e aliados políticos, mencionando João Paulo Capobianco, a quem chamou de “usineiro milionário do ogronegócio”. Questionou ainda os altos juros do Plano Safra:
“Vocês dizem que o plano é de R$ 516 bilhões, mas só 22% são com juros subsidiados. O resto é cobrança de até 2% ao mês!”
Zé Trovão classificou as ações do Ibama como truculentas e afirmou:
“Quem apreende gado sem ordem judicial é bandido. O povo do Norte e Nordeste foi abandonado. Vocês não fazem nada por eles. O seu ministério é uma vergonha!”
"A senhora não tem nada a falar de verdades, traz só ideias, coisas que a sra. diz que fez, que vai fazer, que melhoraram". Dep. Zé Trovão.
Deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM)
Encerrando a sequência, Alberto Neto sugeriu que a ministra peça demissão:
“A senhora pediu demissão desse mesmo governo no passado. Está na hora de fazer isso de novo. Nenhum aliado pediu para transformar sua convocação em convite. Isso já diz muito.”
Ele denunciou a atuação do Ibama no Amazonas: “Estão invadindo terras, destruindo estruturas de pequenos agricultores. Estão sendo truculentos. A senhora fala tanto em negacionismo, mas dentro do seu ministério há um negacionismo crônico: o da regularização fundiária.”
Criticou também a omissão do governo na defesa da BR-319: “A senhora uma vez zombou, perguntando se a estrada era só pra passeio. Mas nosso povo precisa dela para viver. Isolar a população é condená-la à miséria.”
Desagravo da Ministra Marina Silva ao Ibama e aos servidores públicos
Em resposta às duras críticas feitas à atuação do Ibama, a ministra Marina Silva fez um forte desagravo em defesa da instituição e dos agentes ambientais:
“O Ibama é uma instituição altamente respeitada, que trabalha sob ameaças constantes de criminosos. Mesmo após minha saída, há mais de 15 anos, deixei 1.700 fiscais. Encontrei agora apenas 700. Apesar disso, em apenas dois anos, conseguimos uma redução de 46% no desmatamento da Amazônia. Isso é um fato.”
A ministra desafiou os parlamentares a confrontarem os dados:
“Façam análise de satélite, chamem auditoria independente e se atenham aos fatos. Quem defende a ciência traz os dados. Não tenho culpa se vocês não os trazem. Nós trazemos, e não é para camuflar, mas para mostrar a verdade. O desmatamento não aumentou. Não somos culpados se vocês não reconhecem a mudança do clima. O que houve foi um apagão de políticas públicas durante quatro anos.”
Criticou também o uso de narrativas distorcidas: “Peçam para seus assessores analisarem os dados do INPE. As imagens de satélite não mentem. Os fatos são fatos. E repito: o desmatamento caiu.”
Sobre as acusações de abandono de seu estado de origem, a ministra foi enfática:
“Dizem que sou responsável pelo saneamento no meu estado. Manaus tem apenas 30% de cobertura. Devo culpar o deputado da região? Saneamento custa caro. Com emendas impositivas, quanto tempo levaria para atender os 70% que faltam? Por que se usa uma régua para me medir e outra para medir outros? O saneamento não está mais sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente.”
“Quanto das emendas foram destinadas ao saneamento? E ao combate a incêndios? Ao desmatamento? Nada foi! E agora dizem que os recursos do ministério foram para ONGs. Pois conversem com os deputados que defendem os animais. Eu não olho para ideologias, olho para causas. Auditem seus colegas! Meu ministério trabalha e trabalha muito.”
Marina acusa a oposição de não acreditar em dados e na ciência, enquanto ela não acredita nos crimes do Ibama cometidos contra agricultores da Amazônia
Reconciliação com Lula e defesa da democracia
Marina também abordou a relação com o presidente Lula e a frente ampla que derrotou o bolsonarismo: “Vocês acham que vão criar intriga entre mim e o presidente Lula. Estamos em paz. Tivemos divergências políticas no passado, mas diante da ameaça à democracia, nos reconciliamos. E ajudamos o Brasil a se reconciliar também.”
Rebateu acusações sobre fake news e regularização fundiária: “O que dizem sobre o ministério é um amontoado de fake news. A regularização fundiária é necessária, mas não pode significar legalizar grilagem em terras indígenas, em reservas, ou em áreas públicas. Na BR-319 há anúncios de venda de terras dentro de unidades de conservação.”
“Pode-se fazer a BR, sim. Mas é necessário cumprir a lei e realizar a Avaliação Ambiental Estratégica dos 400 km do trecho. Estamos contratando bons estudos. E isso vem sendo feito desde 2013.”
Deputado João Daniel (PT/SE): “O problema é o negacionismo”
O deputado João Daniel lamentou profundamente a convocação da ministra Marina Silva, considerando que o que está em jogo não é o debate ambiental, mas o avanço do negacionismo e do autoritarismo dentro do Congresso:
“Infelizmente, temos aqui um grupo de parlamentares que nega a ciência, que defende o fascismo, o separatismo e as ideias derrotadas nas últimas eleições. Não há um cientista sério no mundo que não reconheça a importância do Brasil para o meio ambiente global.”
Fez referência à liderança moral e política da ministra: “Vossa Excelência é reconhecida internacionalmente. Representa uma geração de líderes que, como o Papa Francisco, defende a casa comum, que é a natureza.”
João Daniel também apontou a falta de avanços no governo anterior: “Qual projeto ambiental sério foi apresentado pelo governo anterior? O que a ciência ou a Polícia Federal disseram sobre a devastação promovida naquele período?”
Segundo ele, a audiência pública estava polarizada entre dois projetos de país: “Estamos debatendo aqui dois projetos: um liderado por Marina e por Lula, que propõe o desenvolvimento com responsabilidade ambiental, e outro que aposta na destruição. O agronegócio sério, que respeita o meio ambiente, não se identifica com os que negam a ciência ou atacam os órgãos ambientais.”
Sobre a COP 30, o deputado destacou: “A COP que será sediada pelo Brasil é uma conquista. É reconhecimento internacional da credibilidade do Ministério do Meio Ambiente. E, mesmo com divergências, Marina Silva é uma das maiores líderes ambientais que este país já teve.”
Encerrou com uma crítica contundente ao bolsonarismo e à tentativa de reescrever os acontecimentos de 8 de janeiro: “Aqueles que financiaram o ataque golpista ao STF, ao Congresso e ao Palácio do Planalto serão responsabilizados. O STF passou a ter protagonismo justamente porque defendeu a Constituição. Quem tenta relativizar o 8 de janeiro defende o retrocesso.”
Deputado Delegado Caveira (PL/PA): Acusações de ilegalidade na criação de unidades de conservação
O deputado Delegado Caveira atacou diretamente a atuação do Ministério do Meio Ambiente no Pará, acusando a ministra e o secretário João Paulo Capobianco de ilegalidades:
“Criaram unidades de conservação em São Félix do Xingu com estudos fraudulentos. Havia muito mais moradores do que foi apresentado nos estudos. Quando essas famílias serão indenizadas?”
O parlamentar ampliou o ataque, criticando as operações de fiscalização ambiental: “Ibama, ICMBio e outros órgãos têm atuado de forma repressiva, penalizando quem quer apenas trabalhar. O governo precisa apresentar um plano claro para realocar essas famílias.”
Fez críticas duras a declarações anteriores da ministra sobre conservação ambiental: “A senhora disse que, se houver um ninho, é preciso respeitar a ave. Mas e as famílias de Apyterewa? Por que não foram respeitadas?”
Criticou ainda o suposto bloqueio de projetos logísticos e econômicos: “Qual o motivo para o ministério não destravar a Ferrogrão? Por que impedir o desenvolvimento de quem quer produzir?”
Acusou os órgãos ambientais de agir com autoritarismo: “Garimpeiros e pequenos mineradores não são bandidos. Estão tendo seus sonhos destruídos, máquinas queimadas, sem direito a defesa. É pena antecipada!”
Questionou o verdadeiro interesse por trás da agenda ambiental internacional: “Essa pauta verde, que recebe bilhões do exterior, não é sobre floresta. Se fosse, eles reflorestariam seus próprios países. O interesse é no subsolo da Amazônia: grafeno, nióbio, terras raras.”
E concluiu com um ataque político: “A senhora tem prestado um desserviço ao país. Deveria entregar o cargo e voltar ao parlamento. Meu indicado seria o Aldo Rebelo.”
Deputada Silvia Waiãpi (PL/AP): “A política ambiental da senhora ministra condena o povo da Amazônia à miséria”
A deputada Silvia Waiãpi iniciou sua fala defendendo com veemência o direito ao desenvolvimento da Amazônia e a autonomia dos povos indígenas, especialmente dos que optam por um modo de vida produtivo e não assistencialista.
Ela questionou diretamente as ações do Ministério do Meio Ambiente e denunciou os impactos devastadores que, segundo ela, têm sido causados pelas operações ambientais: “Qual o método que o seu ministério está usando para combater o desmatamento? Expulsar moradores? Destruir vidas? Condenar o povo do Norte à pobreza extrema?”
Com base em diversas manchetes de jornais, Silvia expôs o impacto das ações de apreensão de gado em áreas indígenas: “A comunidade Guajajara, no Maranhão, me ligou pedindo socorro. Caciques Raimundo e Ubirajara disseram que o gado deles foi apreendido. Um gado que fornece leite, que é vendido para pagar transporte, inclusive para tratamento de hemodiálise. Isso é autonomia indígena sendo desrespeitada.”
A parlamentar condenou o que considera uma política ambiental injusta: “O povo indígena quer independência. E não foi respeitado. Foram condenados à miséria. Suas cercas destruídas, o gado levado, sua subsistência arrancada.”
Citou ainda os bloqueios de rodovias como forma de protesto popular: “As pessoas estão fechando estradas. O povo está se rebelando. O que estamos vivendo é uma insurreição amazônica. Porque não aguentam mais!”
Silvia evocou a história da ocupação amazônica: “Homens e mulheres migraram para a Amazônia com esperança. Agora são tratados como criminosos. São brasileiros como qualquer outro. Filhos da Amazônia, assim como a senhora.”
Denunciou ainda o bloqueio territorial causado por unidades de conservação e terras indígenas: “O meu estado, o Amapá, tem 75% do território bloqueado entre florestas nacionais, reservas ambientais e indígenas. O que sobrou? Só 25%! E ainda temos que cumprir reserva legal sobre esse pouco que resta.”
Criticou duramente a incoerência na autorização do desmatamento para a realização da COP 30: “A senhora condena a BR-319 dizendo que estrada não é para passeio, mas liberou desmatamento para construir acesso ao evento da COP 30. Festejam, condenando o povo da Amazônia à miséria. Nós vivemos na miséria!”
A deputada também acusou a ministra de ter ignorado o povo nortista em uma reunião em São Paulo: “No ano passado, a senhora esteve na USP impondo, sem debate, uma reserva marinha que vai do Oiapoque ao Piauí. A senhora não ouviu nosso povo, que passa fome.”
Seguiu lendo uma série de manchetes de jornais que, segundo ela, provam a truculência das operações ambientais:
- “Gado criado ilegalmente em terra indígena é removido.”
- “Protesto contra operação do Ibama fecha rodovia no Acre.”
- “Ibama multa frigorífico em R$ 365 milhões por compra de gado ilegal.”
Silvia então denunciou que o bloqueio ao desenvolvimento impede inclusive a segurança alimentar e a arrecadação dos estados do Norte: “Enquanto o Sul e o Sudeste produzem, comem e bebem, nós somos estorvo porque não arrecadamos. Mais de 500 famílias no Amapá foram condenadas à miséria. Estamos tendo que importar carne, porque nossos abatedouros foram fechados.”
Criticou o que considera interesses internacionais por trás da política ambiental: “A França tem interesses diretos naquela área onde a senhora impede a exploração. É a área do contestado franco-brasileiro. Eles querem impedir o Brasil de explorar suas riquezas.”
E seguiu: “A senhora representa quem? Quer salvar o mundo? Parabéns. Mas está condenando o povo que deveria representar. Foi eleita por São Paulo, mas nunca esqueça que é filha da Amazônia. E aqui, crianças estão sendo prostituídas, mulheres violentadas, e o tráfico humano avança, porque nos foi negada até a opção de sobreviver.”
Sobre o saneamento, relatou: “Nosso saneamento? 4%. Com a privatização, a capital bateu 7,9%. E ainda temos que ouvir que o Amapá é culpado por não se desenvolver? Com 75% do território bloqueado?”
Silvia denunciou também a suposta ingerência internacional sobre a soberania brasileira: “O Brasil vai depender de petróleo importado, por causa de políticas que impedem o desenvolvimento da Amazônia. E enquanto isso, somos condenados à dependência e à miséria.”
Em sua conclusão, Silvia deixou uma denúncia e um apelo: “A história está se repetindo. Antes se sacrificavam mulheres nos vulcões para salvar a humanidade. Hoje, sacrificam mulheres e crianças da Amazônia. É isso que está acontecendo. A senhora já nos condenou. Não vamos mais pedir para sermos libertos. Vamos lutar. O nome disso é insurreição amazônica.”
"homens e mulheres migraram para lá na esperança de manter a autonomia e a soberania dessa nação chamada Brasil, mas agora são tratados como bandidos," Dep. Sílvia.
Marina Silva defende projeto ambiental e responde críticas sobre desintrusão, Ferrogrão e atuação do Ibama
A ministra Marina Silva afirmou que o presidente Lula, por meio do novo Plano Safra, está recolocando o Brasil no lugar que lhe cabe no cenário internacional: um país que combate a desigualdade, gera emprego e renda, utiliza com sabedoria seus recursos naturais, protege seus povos indígenas e comunidades tradicionais, e, ao mesmo tempo, preserva seus ativos ambientais.
“Essa é a diferença entre os que ainda defendem projetos ultrapassados, como os da ditadura, que abriram estradas sem qualquer cuidado ambiental, e os que buscam novos caminhos — sustentáveis, responsáveis, com resultados reais e duradouros. Caminhos que nos permitam continuar sonhando com um futuro em que água limpa, terras férteis e todo o potencial do nosso território estejam a serviço de um desenvolvimento justo e inclusivo”, afirmou a ministra.
Marina criticou o governo anterior, que “declarava abertamente que os povos indígenas não teriam vez” e que buscava legalizar o uso de terras indígenas para criação de gado e cultivo agrícola. “O presidente Lula assumiu o compromisso de promover a desintrusão dessas terras, seja por garimpeiros, madeireiros ou qualquer outro invasor. A mesma lei que protege a propriedade privada deve também proteger os territórios indígenas, garantidos por lei e por direitos históricos.”
A ministra reconheceu que há pessoas de boa-fé em áreas em processo de desintrusão, e destacou que, nesses casos, o Incra e os governos estaduais estão buscando alternativas. “Mas a alternativa não pode ser a permanência em terras indígenas. A Constituição deve ser respeitada por todos. É isso que a Funai, o Ministério do Meio Ambiente e todos os órgãos competentes estão fazendo.”
Sobre a polêmica envolvendo a Ferrogrão, Marina desmentiu que haja qualquer pedido formal de licenciamento ambiental no Ibama. “Não existe esse pedido. É fácil chegar aqui e criar narrativas, acusando servidores públicos de má-fé. Mas não podemos fazer aos outros o que fazem conosco. Ainda que eu tenha sido alvo de grosserias aqui, não vou retribuir na mesma moeda, sob pena de me tornar aquilo que combato.”
Ela afirmou que o atual ministro dos Transportes quer realizar o processo corretamente: com governança, estudos técnicos e responsabilidade ambiental. “Estamos falando de uma ferrovia no coração da Amazônia. É preciso garantir que ela não comprometa o sistema hidrológico nacional. Quem tem responsabilidade pensa nas próximas gerações — não apenas na próxima eleição.”
Citando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, Marina destacou que o maior ativo da agricultura brasileira hoje não é apenas a tecnologia, o solo fértil ou a disponibilidade hídrica — é o clima equilibrado. “Sem clima, não há como produzir, mesmo com toda a tecnologia da Embrapa. O mundo está aprendendo isso agora, mas infelizmente pela pedagogia da dor, do prejuízo e do luto.”
Em seguida, a ministra fez um desagravo ao secretário executivo João Paulo Capobianco, alvo de acusações durante a audiência. “João Paulo é um biólogo sério, que se afastou de suas atividades privadas, sem qualquer conflito de interesse. O processo de indicação do presidente do ICMBio foi técnico, via comitê de busca, e Mauro, o atual presidente, tem feito um trabalho exemplar.”
Sobre a Terra do Meio, Marina relembrou o assassinato da irmã Dorothy Stang e criticou a tentativa de reescrever os fatos: “A criação daquelas reservas se deu com base legal, em processos legítimos. E nós estamos colocando recursos para garantir a regularização fundiária, com transparência e lisura. O que não pode é grupos organizados intimidarem os indígenas para que assumam um gado que não lhes pertence. A verdade aparecerá nos devidos processos da Polícia Federal, que sabe quem está por trás disso, inclusive com ligações com o tráfico e o crime organizado.”
Ela reiterou: “Gado de indígenas, identificado como tal, não será removido. O que está sendo retirado é o que pertence a contraventores. E, mais uma vez, agradeço ao presidente Lula por confiar a mim essa missão, pela terceira vez, de defender um Brasil sustentável, democrático e justo.”
Deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) defende professores e elogia atuação técnica da ministra
O deputado Chico Alencar iniciou sua fala rebatendo o que considerou uma ofensa aos professores, ao fazer um desagravo à insinuação de que a ministra teria sido "adestrada" por algum educador. “Isso é desrespeitoso com os profissionais da educação”, criticou.
Em seguida, dirigiu perguntas à ministra em tom cordial e colaborativo, como um convite para que ela pudesse aprofundar temas técnicos. Indagou, por exemplo, sobre o controle populacional dos javalis e se há regramento claro para os estados atuarem de forma autônoma sem estimular a política armamentista. Também perguntou sobre a preparação das brigadas de combate ao fogo, sobre o programa Floresta Produtiva e sua integração com a agricultura familiar.
Apesar de seu tom propositivo, ficou evidente que as perguntas estavam em sintonia com a estratégia de permitir que a ministra fizesse propaganda do governo e respondesse em clima amistoso, sem contrapontos reais.
Deputado Marcon (PT-RS) mistura elogios à ministra com críticas à oposição
O deputado Marcon começou exaltando suas origens humildes e seu orgulho em pertencer ao Partido dos Trabalhadores e ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Chamou a ministra de "companheira" e ressaltou sua humildade, coragem e compromisso com as causas ambientais. “A senhora representa o Brasil profundo que luta pela justiça, ao lado de Chico Mendes, irmã Dorothy e tantos outros defensores do meio ambiente.”
Depois, ironizou a oposição, dizendo que muitos dos que dizem defender os pobres votam contra medidas populares, como o fim do IOF sobre a cesta básica ou a vinculação do salário mínimo ao BPC. No entanto, sua fala ignorou o atual déficit da Previdência e as dificuldades fiscais do governo que ele defende.
Ao final, reforçou a narrativa do governo de que o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe, ampliando o tom político da audiência.
Deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) acusa oposição de golpismo e “agronegócio cúmplice”
A deputada Sâmia Bomfim elevou o tom das críticas, acusando a oposição de ser composta por “provocadores desqualificados”. Disse que mais de mil empresas do agronegócio estão sendo investigadas por envolvimento no financiamento dos atos golpistas de 8 de janeiro, termo que ela substituiu por “agro-golpismo”. Chamou a Frente Parlamentar da Agropecuária de “frente do atraso e do negacionismo climático”.
Aproveitou para reforçar a confiança na ministra e agradecer sua atuação. Marina, por sua vez, agradeceu as manifestações de apoio dos parlamentares da base governista e aproveitou para reforçar suas próprias credenciais: “Sou humanista. Faço política com educação quase como uma missão. E pago o preço por isso.”
A ministra ainda criticou a oposição por rotulá-la e ironizou o fato de cobrarem dela ações em relação aos javalis, mas não fazerem o mesmo com os estados, que também têm competência sobre o tema.
A Dep. usou o termo "agro golpismo" referindo-se ao agro brasileiro. Chamou a frente parlamentar da agricultura de frente do atraso, do negacionismo climático.
Marina destaca programas do governo e responde sobre brigadistas e reflorestamento
Dando sequência às explicações, Marina apresentou dados sobre as ações do governo, especialmente no combate a incêndios e no reflorestamento. Informou que o governo federal destinou R$ 60 milhões para o programa de florestas produtivas por meio do Ministério do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, além de R$ 150 milhões do Fundo Amazônia — recurso internacional alocado em banco público para projetos de interesse coletivo.
“O Brasil tem o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares degradados. Estamos financiando a restauração com espécies nativas que sejam produtivas e rentáveis, criando uma espécie de poupança ambiental para os pequenos agricultores”, explicou.
Destacou ainda que o Plano Safra contempla agora atividades de base sustentável, promovendo o equilíbrio entre conservação ambiental e geração de renda.
Sobre o combate ao fogo, Marina informou que o Congresso aprovou, em tempo recorde, a nova Lei do Manejo do Fogo, que já está sendo integrada aos governos estaduais e municipais. Disse que houve um aumento significativo no número de brigadistas contratados: 4.345 neste ano. “O Ibama conta hoje com 231 brigadas federais, das quais 116 são do próprio Ibama e o restante do ICMBio.”
Marina compara mobilizações indígenas e atos golpistas
Ao tratar das manifestações indígenas, como o Acampamento Terra Livre, Marina fez questão de diferenciá-las dos atos do 8 de janeiro. “Uma luta pelos direitos não pode ser comparada com um movimento que tentou destruir os direitos e a democracia. A marcha indígena é legítima; o ataque às instituições, não.”
Deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) exalta fé de Marina e condena a extrema direita
O deputado Henrique Vieira usou seu tempo para prestar uma homenagem pessoal à ministra Marina Silva, exaltando sua história, sua fé e sua dedicação às causas ambientais e sociais. “Sua fé não é um projeto de dominação, mas de amor ao próximo. Sua vida é um testemunho de coerência, compromisso e dignidade”, afirmou.
Ele fez duras críticas à oposição, acusando a extrema direita de negar o debate, manipular dados e alimentar o caos social. Para ele, “a oposição aposta no ódio, porque o ódio gera likes, compartilhamentos e votos”. Disse que o comportamento da direita é, antes de tudo, um “rebaixamento ético e civilizatório”.
Henrique Vieira concluiu: “Marina deu uma aula aqui hoje. E repetir a verdade, diante da avalanche de desinformação, é necessário. Como dizia Martin Luther King, a repetição é pedagógica. Preferível sofrer uma injustiça do que praticá-la.”
"Até quando iremos ficar travados desse jeito? Se apenas 6,7% da nossa terra produtiva é usada? Só existe MMA no Brasil e em nenhum lugar do mundo". Dep. Marcos Feliciano.
O Deputado Marcos Feliciano (PL/SP) rebateu a acusação de que a oposição seria violenta com o atual governo:
“Quando éramos governo, nossos ministros, sim, foram agredidos. Houve casos de ministros que quase foram agredidos fisicamente. A ministra Damares, por exemplo, sofreu ataques baixíssimos quando ocupava o cargo.”
Feliciano seguiu com reflexões críticas sobre o desenvolvimento nacional:
“Sou brasileiro, venho da lavoura. Como pode um país tão rico ter um povo tão pobre? O Brasil possui 25% de seu território reservado como área ambiental. Na Amazônia, esse percentual chega a 80%. Isso, somado à burocracia e à influência de ONGs ambientais, trava o crescimento do país. Temos um código ambiental extremamente rigoroso. Destinamos 14% do território a povos indígenas e comunidades tradicionais. Era para os indígenas estarem milionários! E estamos falando apenas da superfície. E o subsolo? Temos ouro, prata, pedras preciosas. E continuamos pobres."
Ele comparou com outros países:
"A França planta em 35% de seu território, a Índia 50,4%, os EUA 16,8%, a China 13,3% e a Rússia 7,3%. O Brasil, apenas 6,7%, e com isso alimenta 1/5 da população mundial. Imagine se dobrássemos isso! Seríamos milionários. Mas tudo está travado. Por quê? Por influência estrangeira? Por hipocrisia internacional? Os países ricos devastaram o que tinham e enriqueceram. Nós, que preservamos, somos pobres."
Feliciano também relatou uma conversa recente no Amapá com um produtor rural:
"Ele me disse: ‘Pastor, minha vaca que valia R$ 5 mil no governo Bolsonaro, hoje vale R$ 3.200. E o sal está caríssimo. Não conseguimos mais produzir. Estamos pensando em vender tudo e ir pro Sudeste’. Isso é o retrato do que o agronegócio está enfrentando.”
Ele criticou ainda o que chamou de seletividade ideológica e religiosa:
“Quando um deputado de direita cita a Bíblia, é ridicularizado. Mas quando a ministra cita, mesmo de forma estranha, é aplaudida. Isso é hipocrisia. Se eu citasse certos trechos de Levítico, seria acusado de homofobia. Mas ela pode.”
A Deputada Juliana Cardoso (PT/SP) prestou solidariedade à ministra Marina e acusou os críticos de praticarem violência de gênero, prevista na Lei 14.192/2021.
“Quando uma mulher negra, oriunda da floresta, convicta, preparada e ética, se levanta, ela incomoda. O que vimos não foi embate técnico nem democrático, mas sim uma tentativa de desqualificá-la. A ministra constrói uma política digna e não merece ser tratada com hostilidade.”
Parlamentares governistas acusaram a oposição de odiarem o meio ambiente, a justiça social e os povos originários.
A Deputada Talíria Petrone (PSOL/RJ) também saiu em defesa de Marina:
“O que está em julgamento é o Brasil que queremos. A senhora representa o futuro, a justiça ambiental, a resistência. É uma mulher negra amazônida que não se vendeu aos grileiros. Está do lado do povo.”
Marina Silva respondeu com seu tom habitual:
“O Brasil tem um déficit de 10 milhões de hectares de preservação. O amor à humanidade precisa incluir o amor à natureza. Trabalhar pelo meio ambiente é um ato de amor.”
A ministra citou os títulos verdes lançados com Haddad e os investimentos federais em reflorestamento, afirmando que o agro cresceu 15% mesmo com a desintrusão das terras indígenas:
“Não precisamos da contravenção para o agro crescer. O atraso do Brasil não é culpa dos indígenas, mas de uma mentalidade escravocrata e oligárquica.”
O Deputado Rodrigo da Zaeli (PL/MT) criticou o tom da ministra:
“Esse discurso é só autodefesa. O país precisa de uma agenda ambiental nossa, não imposta por interesses internacionais. O Ministério do Meio Ambiente trata o produtor como vilão. Em Mato Grosso, cumprimos as regras, mas ainda somos criminalizados.”
O Deputado Bonh Gass (PT/RS) acusou a oposição de mentir e ser negacionista. Disse que o agro inteligente está com Lula e que os demais têm “saudades do tempo em que podiam tudo”.
O Deputado Ivan Valente (PSOL/SP) disse que Marina foi “torturada com palavras” e que a audiência foi uma “torpeza”. Criticou Bolsonaro e exaltou a ministra como símbolo internacional de sabedoria.
A Deputada Célia Xakriabá (PSOL/MG) ironizou:
“Temos que adestrar a misoginia. O primeiro golpe do Brasil foi em 1500. Precisamos de mais Marinas e menos negacionismo.”
O Deputado Bandeira de Mello (PSB/RJ) elogiou Marina e seu secretário, afirmando que a ministra respondeu tudo com dados e expressou sua admiração ao governo.
O Deputado Tadeu Veneri (PT/PR) mencionou Chico Mendes e Dorothy Stang e concluiu:
“A senhora sai daqui maior do que entrou. Temos que enfrentar o PL da devastação.”
O Deputado Lúcio Mosquini (MDB/RO) pediu uma mudança no marco legal do desmatamento:
“Quem vive na Amazônia quer dignidade. Cortar seringa não enche barriga. Precisa-se de energia, internet, transporte. Minha família vive da vaca e da soja. Quem desmatou no passado, como meu pai, fez por necessidade. Essas pessoas precisam de alternativas legais, não serem tratadas como criminosas.”
O Deputado Túlio Gadêlha (REDE/PE) defendeu Marina, criticou a desinformação e os ataques à ciência. Aproveitou para acusar Bolsonaro de corrupção com “rachadinhas e imóveis comprados com dinheiro vivo”.
A Deputada Cristiane Lopes (União/RO) acusou o governo de abandonar os produtores rurais:
“Me envergonha ter a senhora como representante da região Norte. O Ibama está confiscando gado de pequenos produtores. Famílias estão desesperadas. Não existe política concreta para regularizar. O Incra está sucateado e ninguém faz nada. O governo parece mais preocupado em agradar a Europa do que ajudar o brasileiro da floresta.”
"O Ibama tem roubado o gado de pequenas propriedades rurais. Ver pais e mães de famílias chorando desesperados. Isso não é todo mundo que vê, é a gente que vê e a gente não tem sangue de barata. Eu estou recebendo telefonemas de homens e mulheres que estão psicologicamente abalados porque eles dormem e não sabem se no outro dia vão ter um lugar para sobreviver com suas famílias. Terras estas que foram oferecidas a eles. Desde a década de 70 pra cá, nunca avançou a regularização fundiária e a senhora, na posição que está, poderia colaborar".
"Deus abençoou a humanidade para frutificar e multiplicar, mas a senhora não está deixando". Dep. Cristiane
A audiência terminou sem avanço concreto. A Ministra Marina Silva preferiu narrativas e autopromoções ao invés de apresentar soluções práticas. Em diversos momentos, ignorou perguntas ou respondeu sem objetividade. A defesa incondicional aos órgãos sob sua tutela contrastou com os relatos de arbitrariedades desses mesmos órgãos contra produtores rurais. Parlamentares da base governista não buscaram debate — preferiram transformar a audiência em palanque de elogios à ministra e ataques à oposição, com termos ofensivos e discursos ideológicos.
O que se viu foi o retrato de um país dividido em dois Brasis paralelos: um construído em narrativas oficiais, e outro sustentado por quem vive a realidade na pele. Paralelos não se encontram. A audiência foi a prova de que há dois referenciais irreconciliáveis. O que resta é esperar que o Brasil real — o que sente o peso do Estado, paga a conta e carrega o país — seja devidamente representado nas urnas em 2026. E que se restabeleça o básico: o direito do legislador de fiscalizar sem ser ofendido.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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