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 herivelton amapa

São 60 anos de arte e a exposição Raízes e Identidade" segue até 18 de outubro, no Museu do Negro.

O Museu de Arte, Culturas e Memórias Negras de Macapá abriu nesta sexta-feira (3) a exposição “Raízes e Identidade”, em homenagem aos 60 anos de carreira do artista plástico amapaense Herivelto Maciel.
A mostra é uma iniciativa da Prefeitura de Macapá, realizada pelo Instituto Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (IMPROIR), presidido por Cristina Almeida, e celebra a trajetória de um dos maiores nomes da cultura tucuju — autor, entre outras obras, do brasão oficial do município de Macapá.

A exposição estará aberta ao público até o dia 18 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 17h, no Museu localizado na esquina das avenidas Presidente Vargas e Mendonça Furtado. Além de apreciar as obras, o público poderá adquirir peças originais, valorizando um dos artistas mais representativos da Amazônia.

Homenagem e emoção

A abertura contou com a presença de amigos, admiradores e membros da comunidade. Durante o evento, Herivelto Maciel e sua esposa e curadora Eleny Quintela receberam certificados de honra ao mérito.

Com emoção, o artista agradeceu a homenagem e lembrou de sua trajetória iniciada ainda na infância:

“Nunca parei de pintar desde que me entendo por gente. Aos 8 anos ganhei um concurso de arte na escola Barão do Rio Branco. Aos 13, fiz minha primeira exposição na inauguração da Companhia Amapaense de Telefones, em 1965. Hoje, aos 73 anos, ver minha arte reconhecida no Museu do Negro é uma alegria imensa”, disse.

herivelto

Amigos e admiradores das obras de Herivelto Maciel estiveram presentes dando início à exposição nesta sexta-feira.

A origem da arte amazônica

Autodidata, Herivelto construiu uma linguagem própria, usando “resinosos da Amazônia” — pigmentos naturais extraídos de frutos, raízes e plantas regionais.

“Quando criança, eu ia à igreja não para ver a missa, mas para admirar as pinturas. Como não tinha dinheiro para tintas, comecei a experimentar açaí, raízes e frutas. Descobri tons e texturas que até hoje dão vida à minha arte”, contou.

Essa pesquisa o levou a realizar uma exposição de 600 kg de obras no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília, e a participar de mostras em várias partes do Brasil e do exterior.

Suas criações retratam a fauna, a flora e o povo amazônico, exaltando a ancestralidade negra, indígena e cabocla. Em suas palavras:

“Pinto o negro, o índio, o ribeirinho... Pinto a alma da Amazônia. Ela é viva, ancestral e fala através da cor.”

Um patrimônio vivo da cultura tucuju

Ao longo da carreira, Herivelto foi professor da Escola de Artes Cândido Portinari, participou de centenas de exposições e criou símbolos oficiais como o Brasão de Armas do Estado do Amapá e o Brasão do Município de Macapá.

Sua produção é vasta e difícil de contabilizar:

“Eu garatujo todo santo dia. Desde menino, meus amigos eram meus cadernos de desenho, meus lápis, meus pincéis. Produzo desde sempre, não dá pra contar quantas obras fiz.”

Apesar da reconhecida relevância de sua arte, o artista lamenta a falta de incentivo para difundir seus trabalhos no exterior:

“O açaí está no mundo, mas a minha pintura feita com ele ainda não. Falta apoio para que essa linguagem amazônica também ganhe o mundo”, observou.

herivelto pintor

 Herivelto e Eleny, sua  esposa e curadora, receberam certificado de Honra ao Mérito pela contribuição com a arte em Macapá.

O olhar da curadoria

Eleny Quintela, esposa e curadora, emocionou o público ao relembrar a infância difícil do artista:

“Falar do Herivelto é falar de um menino que não pôde ser menino. Filho de lavadeira, começou a trabalhar cedo, pintando canoas e fachadas de casas para ajudar a mãe. Não recebia dinheiro, recebia alimentos. Aos 10 anos já atravessava os canais de Macapá com sua jangadinha feita de sarrafos para levar o sustento de casa.”

Além das artes plásticas, Herivelto também foi nadador, atleta e professor de artes marciais, tendo fundado a primeira academia de taekwondo em Serra do Navio. Com 18 anos, trabalhou na ICOMI e aprendeu inglês em apenas três meses para aproveitar uma oportunidade profissional.

“Herivelto é um patrimônio histórico, artístico e cultural da nossa cidade e da Amazônia”, disse Eleny. “Ele viveu para retratar o homem negro, o indígena, o ribeirinho, o povo da floresta. Ele se confunde com o Amapá.”

herivelto artista

Registrar o negro, o indígena, o ribeirinho numa tela, é eternizar a história da alma do povo da Amazônia.

A importância da memória e da ancestralidade

A secretária Cristina Almeida destacou o valor simbólico da mostra:

“O Museu do Negro é uma imersão na história de Macapá e de seus primeiros povos. A exposição de Herivelto é um mergulho na verdadeira Amazônia — não apenas a natureza, mas as pessoas que nela vivem. Ele traz para a contemporaneidade o olhar de um menino que, há 60 anos, já retratava o povo da floresta.”

Cristina reforçou que o espaço cumpre uma missão de preservar e difundir a memória afro-amazônica:

“O que seria de nós sem cultura, memória e arte? Este espaço existe para isso: para perpetuar histórias através de olhares como o de Herivelto Maciel.”

herivelto macapa

Seus incontáveis quadros estão presentes em residências, prédios públicos e estabelecimentos comerciais. 

Visitação e agendamento

A exposição raízes e identidade é aberta ao público nos horários e dias de funcionamento do museu.

Visitas em grupo monitoradas ao museu podem ser agendadas com Felipe Dias, diretor,  pelo telefone (96) 98409-7477.
Grupos escolares e institucionais podem solicitar acompanhamento guiado com contextualização histórica e explicações detalhadas sobre as obras e objetos expostos. A entrada é gratuita.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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