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ICMBbio alegou campanha de desinformação e elevada probabilidade de tumultuos durante as consultas

Muitos acordaram hoje, se orgulhando da força da pressão popular e, por isso, o ICMbio recuou e adiou as consultas públicas que estavam marcadas para esta semana. Mas não perceberam que a orientação dada e recebida foi em cima de uma premissa falsa de que há muita desinformação e há possibilidade de tumultuos durante as consultas, se estas forem feitas neste momento. 

Portanto, o recado dado não foi por respeitar o povo do Amapá e nem as dezenas de instituições e até as autoridades políticas que repudiaram a criação de mais uma reserva no Estado que já é quase 100% engessado com tantas áreas impedidas de serem sequer visitadas. 

O recado dado foi que quem é contra essas reservas faz fakenews, cria tumultuos e é perigoso. Cuidado para não aplaudir a sua ofensa. Sei que estamos num momento tão delicado do Brasil que queremos a redenção dele a qualquer custo, não importa de onde venha a decisão de explorar o petróleo, mas não sejamos ingênuos. 

O motivo real do adiamento foi que não há clima para aprovação dessa reserva, como houve em tantos outros momentos no passado, motivo pelo qual estamos estagnados há 500 anos. Pois a sociedade dormia enquanto as ONG's tomavam fatias cada vez maiores da Amazônia com o apelido de proteção ao meio ambiente e legislação boa samaritana. 

A diferença agora, é que estamos acordados e as redes sociais deram força e voz para quem tem o contraponto. Não há mais chance do ICMbio chegar na surdina, e aprovar proibições baseadas em decisões de uma minoria manipulada por eles mesmos. 

Portanto, em que pese que as manifestações, notas de repúdios e os planos que estavam sendo feitos pela sociedade de estar presente nas consultas públicas foram fatores decisivos para o recuo, as alegações dadas pelo Instituto e pelo Governo do Estado estão longe de serem a verdade. 

Todas essas manifestações populares e institucionais feitas até o momento não são violentas e nem baseadas em fakenews. Nem mesmo havia qualquer plano de praticar tumultuos nas audiências por parte de quem é contra a criação das Resex. Isso é uma completa falta de respeito, para não dizer outra coisa mais grave! 

A sociedade amapaense precisa ficar ainda mais atenta, quando a sua pressão e opinião se tornam, aos olhos de alguns,  um quase crime de "fakenews" e planejamento de atos violentos.

É preciso aprender a fazer a leitura de todas as entrelinhas, para não sermos, mais uma vez, os bobos da corte! Não chame de respeito a ofensa e nem de recuo a acusação. 

Adiar não significa desistir. Se o ICMbio e o Governo do Estado perceberam que a maioria repudia a criação de mais um espaço que pertence ao povo do Amapá sendo proibido ou com acesso controlado, o correto seria desistir. Para que fazer uma consulta se a opinião pública já está bem clara? Por que temer a presença de quem é contra se o objetivo é ouvir a todos? A menos que não fosse esse o objetivo real. A menos que o plano fosse ter a presença somente de quem concorda.

Já há uma manifestação muito clara do desejo da sociedade. O problema é que essa sociedade resolveu participar do debate e, como resposta, recebeu a alcunha de propagadora de fakenews e de estar planejando fazer tumultuos. 

Numa democracia saudável, a participação de mais pessoas numa consulta pública, jamais deveria ser vista como ameaça. Quando a participação popular tem sua reputação assassinada, estamos em qualquer regime, menos numa democracia.

Adriana Garcia 

Jornalista na Amazônia

CONTRIBUA QRCODE ADRIANA

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