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 audiencia julho

O monólogo ideológico de Marina é o retrato de dois brasis que caminham em paralelos e não em extremos.

A audiência com a ministra Marina Silva, realizada no dia 2 de julho na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, escancarou o abismo entre dois Brasis: o Brasil real, que clama por soluções concretas, e o Brasil das narrativas ideológicas, onde floreios retóricos substituem respostas objetivas.

Mais do que confrontos políticos previsíveis, o encontro evidenciou o distanciamento entre os parlamentares que convivem diariamente com o drama dos produtores rurais, o abandono institucional e a burocracia paralisante — e uma ministra que, blindada por sua base ideológica, recorreu à retórica da resistência e da vitimização, tratando qualquer oposição como desumanizadora e ilegítima.

O deputado Evair de Melo resumiu bem o sentimento de frustração, praticamente no início da sessão: “Essa audiência será inócua. A ministra foi adestrada para repetir um discurso que só faz sentido para ela mesma.” E de fato, Marina apresentou uma narrativa recheada de dados e falas ensaiadas — semelhantes àquelas declarações genéricas que o presidente Lula costumava dar enquanto rodava o mundo pintando um Brasil que só ele via.

Marina traçou um retrato otimista do país: exaltou o Plano Safra, as negociações com o Ministério da Economia e os ganhos que a governança ambiental supostamente trará. Como de praxe, atacou o ex-presidente Bolsonaro, vitimizou-se e até citou trechos bíblicos fora de contexto e significado como: “Deus, querendo nos educar de que toda a vida importa, ele se comporta como uma galinha” referindo-se ao texto bíblico de Mateus 23:37"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não quisestes!".  Essa foi apenas uma das muitas “pérolas” da ministra — evangélica aclamada por setores da esquerda que, paradoxalmente, desprezam os valores da Bíblia.

Durante toda a audiência, Marina Silva negou categoricamente todas as acusações e questionamentos:

Sobre a estrada em construção no Pará, onde ocorrerá a COP30, isentou o Ibama e afirmou que a autorização partiu exclusivamente do governo estadual — uma postura contraditória diante das frequentes intervenções do órgão em outras situações.

Em relação à BR-319, questionou por que o governo anterior, “de porteira aberta”, não realizou a obra, e disse que não há nenhuma solicitação no Ibama para sua liberação, desafiando os deputados a enviarem o pedido para então poder “negar oficialmente”.

Sobre sua participação na Marcha Indígena, realizada em plena semana legislativa, minimizou os atos violentos e disse que estava exercendo seu direito democrático de manifestação, em contraste com os atos de 8 de janeiro, segundo ela, “antidemocráticos e golpistas”.

Quanto às denúncias de abusos cometidos por Ibama e ICMBio contra produtores rurais na região Norte, defendeu os órgãos, afirmando que atuam dentro da legalidade.

Sobre o secretário executivo João Paulo Capobianco, cujo irmão venceu uma milionária licitação com o ICMBio, garantiu que o processo foi conduzido com absoluta lisura.

Em relação às queimadas, insistiu que houve redução de 46% — número que contraria a percepção de quem vive a realidade rural — e destacou o retorno financeiro internacional: “Reduzimos o desmatamento em 790 mil hectares e deixamos de lançar cerca de 400 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera. Isso nos permitiu praticamente dobrar os recursos do Fundo Amazônia.”

Marina Silva mostrou-se mais preocupada em prestar contas aos organismos internacionais do que ao Parlamento ou ao povo brasileiro. Para ela, tratados globais parecem ter mais peso que a própria Constituição. O discurso ambiental, embora necessário, tem sido usado como escudo para ignorar os dramas cotidianos do campo.

Sua base política, é claro, aplaudiu entusiasticamente. Para eles, a ministra saiu da audiência “gigante”, uma referência internacional a ser reverenciada. Já a oposição deixou claro que não buscava powerpoints coloridos e frases de lacração, mas sim respostas concretas sobre os agricultores sendo expulsos, gado confiscado, estradas embargadas e insegurança jurídica crescente. Exigiram coerência entre discurso e prática, denunciaram o tratamento seletivo do Ibama e questionaram por que o Ministério do Meio Ambiente, com esse perfil intervencionista, só existe no Brasil.

O deputado Evair foi enfático: “A estratégia dela é a mesma usada pelas FARCs, pelos movimentos revolucionários da América Central, pelo Hamas, pelo Hezbollah. Saul Alinsky é o mentor dessa esquerda retrógrada que quer controlar a narrativa a qualquer custo.”

A constatação final é dura: convidar ou convocar novamente a ministra será perda de tempo. Marina se mostrou treinada para contornar perguntas, ignorar denúncias, fugir de fatos e abraçar generalidades. Adotou a estratégia do distanciamento com maestria. Não respondeu, usou de subterfúgios. Declarou que “amar a natureza é amar a humanidade” e disse que o agro cresceu “mesmo com retirada de gado das terras indígenas”. Atribuiu o atraso brasileiro à “mentalidade escravocrata e oligárquica” — discurso reciclado que já não convence quem vive o dia a dia do Brasil que produz.

Ao final da audiência, o sentimento geral entre os membros da Comissão de Agricultura foi de frustração. Quem esperava respostas recebeu metáforas e poesias. Quem cobrou soluções foi hostilizado. E quem defendeu o governo, em vez de dialogar, criou mártires e atacou adversários.

Não houve diálogo. Houve dois monólogos paralelos — e como se sabe, paralelos nunca se encontram.

Vivemos, portanto, em dois Brasis. O da utopia ideológica, que acredita ter razão absoluta e recusa-se a escutar. E o Brasil real, onde há fome, produção ameaçada, insegurança jurídica, perda econômica e desesperança. É este último que paga a conta — e busca soluções.

Ao Brasil real, resta resistir até 2026. E, com fé e discernimento, votar para que a democracia volte a garantir o essencial: que o Parlamento possa cobrar, que o Executivo tenha o dever de responder, e que o povo brasileiro não precise mais pedir licença para ser ouvido.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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