O país está dominado por facções criminosas. Estamos numa guerra interna que mata mais do que muitas guerras.
Diante da magnitude que tomou o conflito entre Israel e Irã, muitos temas relevantes deveriam vir à tona no Brasil. Questões que nos fariam puxar o fio da história e entender como chegamos até aqui.
Desde criança, aprendi que o Brasil é um país de paz. Isso sempre soou como uma virtude — até o dia em que compreendi que a verdadeira paz exige preparo para a guerra. E nós não estamos preparados. Essa condição nos coloca numa posição de rendição total diante de países que detêm poder de fogo real.
O fato de o Brasil não produzir armas nucleares não significa que estamos isentos de responsabilidade. A verdade é que, por meio da nossa matéria-prima, que temos de sobra, podemos estar colaborando — ainda que indiretamente — com a fabricação de armamentos por grupos terroristas como os do Irã. Armas capazes de dizimar partes do Oriente Médio, com o objetivo declarado de exterminar Israel.
Portanto, mesmo que “sejamos de paz”, podemos estar financiando um genocídio sem nos darmos conta. É impossível mensurar quanto urânio já foi contrabandeado a partir do Brasil. Nossas fronteiras são vulneráveis, nossas Forças Armadas estão sucateadas, e vastas áreas da Amazônia — maiores do que muitos países europeus — estão interditadas aos próprios brasileiros. Exatamente nessas zonas proibidas é que imperam o tráfico de drogas e de minérios, sob a conivência ou o olhar omisso do Estado, que parece só se importar em desapropriar quem produz.
Não é legítimo chamar o Brasil de pacífico quando, em várias regiões, quem domina são facções criminosas. A guerra que vivemos é silenciosa, desproporcional e covarde. O aparato estatal não defende o cidadão; frequentemente, se alinha com o crime.
As vítimas dessa guerra não se alistaram. São civis: trabalhadores que saem de casa e não retornam porque foram vítimas de latrocínio; agricultores que, enquanto cultivam suas terras, são arrancados delas como se fossem invasores, tratados como criminosos por agentes do próprio governo; famílias inteiras afetadas por balas perdidas em confrontos entre bandidos e a polícia.
Vivemos uma guerra imposta por um governo que se diz pacífico. Para “pacificar”, ele desarmou um lado — e esse lado não foi o do crime. Estamos rendidos por completo. Não foi necessário que tanques inimigos cruzassem nossas fronteiras. Bastou que o medo se instalasse. Ele já tomou conta das grandes cidades e avança nas pequenas. A morte se tornou corriqueira. Banal.
A educação virou apenas retórica. A massa sobrevive por milagre, sem perspectivas. Talvez essa seja a pior guerra de todas: não contra um exército estrangeiro, mas contra a própria desesperança.
Sem ciência, sem tecnologia, sem defesa, não temos soberania. E isso não é sinônimo de paz. É sinal de covardia. Um gigante rico e vulnerável, prestes a ser saqueado por consequência de sua guerra interna — aquela na qual o próprio Estado destrói a Nação.
Enquanto a Europa nos trata como reserva técnica energética ou o terrorismo nos usa como repositório mineral, continuamos impedidos de explorar nossas riquezas, seja para o nosso desenvolvimento sócio-econômico, seja para o avanço da nossa ciência, tecnologia e defesa. Não é a força externa que nos impede, mas a conivência interna. Uma grande covardia! O Brasil tem tamanho para se impor, tem recursos para se proteger. Mas o que nos falta é vontade política, é patriotismo, é soberania. Nos comportamos como um gigante acéfalo.
A guerra mais danosa é aquela em que nós financiamos nossos algozes. Alguns deles, nós até chamamos de Vossa Excelência. Nossos inimigos têm direitos assegurados; nós, apenas deveres impostos. É uma guerra lenta, disfarçada, que nos mata por dentro antes mesmo de começar — pela apatia, pela submissão, pela omissão.
O Brasil, com sua vastidão territorial e suas riquezas naturais, já poderia ser uma potência global. Poderia ter garantido sua independência energética com a exploração da Margem Equatorial, liderando o setor de óleo e gás. Mas, ao contrário, preferimos nos ajoelhar diante de uma agenda verde que serve mais como instrumento de controle do que de preservação.
Nossa política externa e interna serve a interesses alheios. Cumprimos, como um animal adestrado, uma agenda que não é nossa. Trabalhamos para enriquecer outros países e para dar qualidade de vida para quem não vive aqui. A impressão é de que somos um país masoquista.
Não conseguimos ser nem sombra daquilo que países devastados por guerras conseguiram se tornar. Talvez, lutar por nosso país como um só homem não seja tão ruim assim. Talvez, apenas uma guerra de consciência e honra seja capaz de despertar o brio que a falsa paz anestesiou.
Hoje, somos sobreviventes de uma guerra silenciosa, cruel e permanente. O terror está nas ruas, nas telas, nas manchetes. Mas, por ignorância ou conveniência, ainda nos orgulhamos de sermos “pacíficos”.
Quem sabe uma guerra, no sentido mais nobre da palavra — aquela que une uma nação em torno da verdade, da liberdade e da justiça —, nos desperte. Porque até aqui, a “paz” tem nos mantido de joelhos. E o Brasil, apesar de rico, segue necessitado. Apesar de grande, vive para realizar os sonhos dos outros e sobrevive em seus constantes pesadelos.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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