Ignorar a guerra cultural, é perder a guerra toda
Ontem, eu não tive como não lembrar do saudoso Olavo de Carvalho. Nunca fui sua aluna. Talvez, um dia eu invista tempo e recursos em seus muitos livros e cursos. Eu apenas o seguia e assisti alguns vídeos seus, no youtube. Eu me deparei com um cenário tão claro de tudo que ele ensinou, que não tive como ignorar a sua preciosa contribuição para nossa geração que, mais do que nunca, precisa ser reavivada.
Olavo falava sobre guerra cultural e dizia que a Presidência da República era a cereja do bolo, mas o problema estava no bolo. Esse bolo é a esquerda dominando as escolas, as faculdades, os órgãos de classe, a mídia, o cinema, as artes, os quartéis e até a pseudociência, que decide a conclusão a partir de sua ideologia e dá um jeito de chegar a ela.
Eu nunca fui ou assisti pela TV um show de Anita para ver a nitidez dessa guerra. Mas ontem, eu presenciei e, porque não dizer, toquei, senti o pulsar da guerra cultural ignorada por muitos que se dizem conservadores. Eu estava num evento da Academia Amapaense de Letras, na posse de dois novos membros. Meu objetivo neste artigo não é descrever o que vi, mas o que conclui, a partir do que vi, e alertar a direita para algumas verdades que Olavo, incansavelmente, falou, e continuam sendo ignoradas, ou, pelo menos, não tiveram força suficiente para que a direita se mova, saia do sofá e das redes sociais e ocupe esses lugares.
Ninguém, mais do que nós, sabe que não basta sermos maioria para que tudo volte ao lugar. O presidente atual subindo à rampa com aquela diversidade de pessoas que hoje ele joga na fome, não precisou de maioria para estar lá. Bastou uma Suprema Corte e uma Emissora de TV. Sabe por que? Porque quando os espaços culturais e de formação de opinião são tomados pela militância esquerdista, a minoria vence qualquer batalha travada no mundo das ideias, das mentes, do pensamento.
Os pobres estão abandonando o barco do governo de elite que eles elegeram. Mas a elite que usa os pobres, jamais abandonará esse barco que lhe proporciona vinhos caros e caviar. E é essa elite que escreve, que forma nossos filhos, que recebe reconhecimentos, que presta serviços "relevantes", que está nas jornadas, nos congressos, nas mesas redondas, que produz o "conhecimento" que alimenta gerações.
A esquerda é livre para dizer o que quer, para se orgulhar do que deveria se vergonhar, para acusar seus opositores de criminosos e incitar contra eles o ódio que ela diz ser vítima. Ela não cansa de repetir mentiras das quais eu não tenho dúvidas que muitos, realmente, acreditam. Ela aplaude o inadmissível com uma naturalidade assustadora.
A direita pisa em ovos, "não se mistura com essa gentalha", está fechada em sua bolha, achando tudo absurdo, mas sem nada fazer de concreto. Ela tem a capacidade de se horrorizar, de fazer meme, de se indignar, mas parece não estar preparada e nem atenta para esses espaços chaves ocupar. Ela escuta, calada, as mentiras. E sai dos ambientes dizendo a verdade sobre a esquerda, sem refletir quanto a verdade sobre ela mesma.
Estamos engolindo sapos, e até gazelas, porque nos omitimos, porque fomos covardes, porque ficamos décadas cegos, politicamente. E agora, ainda que sejamos muitos e a maioria, temos uma infantil e insana expectativa de que apenas um homem tem a obrigação de mudar essa equação. Não assumimos nossa inércia, nossa preguiça em entrar em embates, em pagar o preço nas redações de jornais, nas artes, na cultura, na educação. Queremos que tudo se resolva na política, quando não foi na política que tudo começou.
Parlamentares de direita se orgulham em economizar verbas públicas com uma equipe enxuta. Os de esquerda usam até o que não deve para formar e fidelizar sua militância. Eu não sei quando a direita fará um movimento que seja mais que ruas, mais que redes. Que seja no seio dessas instituições que conseguem sequestrar o pensamento de gerações. Precisamos nos dividir, não para ver quem é o melhor, mas para nos espalharmos nas artes, na música, na literatura, e fazer o melhor lá, para libertar o pensamento sequestrado por quem tem estratégia, paciência e sabe jogar o jogo que lhes garante aplausos, apoios, abraços.
Eu sonho com tempos de discernimento na direita, para absorver dos seus opositores a coragem e ousadia de lutar por aquilo que se acredita e de uma maneira inteligente, atraente, agradável e sutil. Não basta sermos os certos da história. Temos que parecer sermos os certos. E isso não é hipocrisia, é harmonia com o que julgamos ser. Força sem estratégia, não nos levará a lugar algum. Pressa sem reflexão, também não. Alguém que hoje está destruindo o nosso país, planejou isso quarenta anos atrás e não desistiu, mais com estratégia do que com maioria e força. Se você soubesse que, com sua ação consciente e estratégica hoje, somente daqui há quarenta anos você salvaria seu país e o veria próspero e livre, você ainda assim se moveria, agora? Eles se moveram no passado, mesmo sem saber se estariam vivos para ver. Pasmem. Estão! Alguém já disse que os bons precisam ter a mesma audácia dos canalhas. Chegou a hora disso, não importa quantos anos teremos que esperar para vermos os seus frutos. Façamos a luta do mestre Olavo de Carvalho ter valido a pena.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia