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O que assistimos depois do resultado do TSE, em 2022, atesta que a democracia brasileira virou museu.

Após o resultado oficial do TSE proclamando Lula e Alckmin vencedores em 2022, o Brasil mergulhou em um verdadeiro pesadelo. A realidade mostrada nas ruas e nas redes sociais era completamente diferente da apresentada nas urnas. Mesmo com a tal "frente ampla" dizendo-se salvadora da "democracia", a matemática — ciência exata que não aceita subjetividade — apontava que a maioria queria Bolsonaro por mais quatro anos. A diferença? O outro lado tinha consigo a grande imprensa e o poder judiciário.

Eu poderia usar este artigo para listar as inúmeras manobras que livraram Lula da prisão e o tornaram elegível. Poderia discorrer sobre a descarada parcialidade do presidente do TSE, evidenciada antes, durante e depois da eleição. Poderia mencionar as famosas maquininhas eletrônicas e os muitos motivos para se desconfiar delas — suspeitas que não são de hoje. Mas prefiro focar no que ficou escancarado: o resultado já parecia definido meses antes. Prova disso foi o olhar envenenado de William Bonner ao perguntar a Bolsonaro, com certa antecedência e ironia, se ele aceitaria “numa boa” o resultado da eleição.

No primeiro turno, parte da esquerda já se encontrava na Avenida Paulista para comemorar. Mas algo deu errado: o resultado não foi o esperado. Talvez a diferença de votos a favor de Bolsonaro tenha sido tão expressiva que não houve como manipular. Bolsonaro conseguiu eleger senadores, deputados federais e estaduais, além de governadores. Só ele, supostamente, não se elegeu. Quem acredita nisso? Apenas quem faz parte — direta ou indiretamente — do golpe em curso. Qualquer pessoa minimamente honesta sabe que a matemática do primeiro turno não fecha.

Diante do cenário de impotência institucional, patriotas foram às portas dos quartéis. Muitos, de forma ingênua, acreditavam que os militares existiam para garantir a democracia. Ao vermos um condenado em três instâncias ser alçado ao poder pela suprema corte, em uma eleição completamente parcial, achávamos que as Forças Armadas tinham o dever de intervir — não em golpe, mas conforme a Constituição Federal, que acreditávamos ainda estar em vigor.

Foram 70 dias de mobilização popular. Setenta dias de união, debates, aprendizado político e demonstrações práticas de solidariedade. A mobilização se tornou uma verdadeira escola cívica: pessoas se revezavam cozinhando, limpando, doando tempo e recursos, orando, rezando, clamando aos céus. Criou-se ali uma grande família patriótica, com fé em um livramento.

Mas então veio o teatro do 8 de janeiro. Uma operação planejada para criminalizar o movimento patriota e atribuir a Bolsonaro a culpa. A partir dali, o medo se instalou: medo de ir às ruas, de se expressar nas redes sociais, de discordar. A censura tomou forma. Esse foi o primeiro sinal de que a eleição não foi ganha, mas tomada. O regime se revelou: calou vozes, prendeu opositores, plantou o terror jurídico, e instaurou o medo como política de Estado.

Bolsonaro, eleito em 2018 com maioria absoluta, jamais perseguiu a imprensa, nunca calou opositores, nem processou os que o difamaram rotineiramente. O novo regime, ao contrário, foi além da censura: promoveu prisões em massa, violou garantias constitucionais básicas, praticou ilegalidades gritantes que até calouros de Direito conseguem identificar. Após tomar o poder, não podiam mais recuar. E, como sempre, acusaram seus opositores daquilo que eles próprios estavam fazendo.

Mas como vencer essa narrativa? A mesma imprensa que colaborou com o golpe foi incorporada como estatal. E agora repete, como um disco arranhado, os termos “atos golpistas”, “minuta do golpe”, “terroristas”, criminalizando qualquer forma de oposição. A missão antes era impedir a reeleição de Bolsonaro. Agora, é impedir seu retorno. Não existe plano de governo, existe plano de poder. Tudo gira em torno disso: não governar, mas consolidar o domínio.

Não me aprofundarei nos presos políticos, nos perseguidos, exilados, nem nas vítimas fatais do novo regime. Afinal, a “democracia” ganhou até museu. Um detalhe simbólico: o que vai para o museu pertence ao passado. E talvez ela, de fato, tenha ficado para trás.

O povo brasileiro hoje lida com problemas gravíssimos: perda do poder de compra, insegurança jurídica para investir, intromissões políticas de tribunais, e um Estado esbanjador, que enriquece banqueiros às custas da miséria popular. Vemos juízes decidindo, com base em interesses narrativos, quem é culpado ou inocente. As Forças Armadas dizem que a solução é política. Mas é justamente a política que está sequestrada.

O judiciário, que já escolheu Pacheco e Alcolumbre, continua blindando seus ministros e travando qualquer tentativa de responsabilização. Os presos do 8 de janeiro seguem encarcerados, e o “inquérito do golpe” se transformou em uma produção surreal: mistura de novela mexicana, filme de terror, comédia de mau gosto e uma orgia de ilegalidades. Advogados de defesa se veem em um pesadelo sem fim. E agora, até a tortura voltou ao vocabulário nacional.

A segurança pública está deteriorada. Uma dama do tráfico transita livremente pelos corredores do poder. Aquela comemoração nos presídios após a eleição era um sinal: o crime venceu. Mas eles chamam crime de “amor”.

Distorcer a realidade virou política de Estado. As vítimas são tratadas como vilãs; os vilões, como heróis. E quando parecia que nada mais podia piorar, Lula decide apoiar o Irã. Sim, o regime que financia o terrorismo. Aliado de ditaduras, o presidente brasileiro ultrapassa todos os limites e coloca o país em rota de colisão com os EUA. A ironia é que agora os “fascistas bolsonaristas” precisam defender Israel dos lulistas “democráticos” que apoiam o antissemitismo. A esquerda, que diz lutar por mulheres e gays, apoia regimes que executam ambos. A cegueira generalizada é fruto direto da pedagogia do Paulo Freire.

Hoje, não se pode mais dizer nada. Mas a verdade grita: o Rei está nu. Nu e com as entranhas expostas. Seja a esquerda, o judiciário, o congresso conivente ou a imprensa estatal, todos estão enredados no mesmo projeto: um regime totalitário onde o “governo do povo” virou peça de museu.

Desde que PT e PSDB foram desmascarados e precisaram se unir para manter o sistema, o problema do Brasil deixou de ser político. Agora é moral. Trata-se de amar ou odiar o país. De lutar pelo seu futuro ou enterrá-lo de vez. De respeitar a Constituição ou se curvar ao poder absoluto de uma casta togada.

Tudo indica que uma facção tomou o poder. E por isso surgiu o grito: “Perdeu, Mané”. Mas o mundo viu. E muitos já reconhecem que o Brasil não está em uma democracia. A pergunta é: como sair dela?

Se não houver remédio, remediado estará. E seguiremos rumo à Venezuela. O que antes era taxado de exagero virou previsão plausível. Eles não recuarão, não reconhecerão nada, tampouco se renderão. Foram longe demais para isso.

Se Deus tiver misericórdia do Brasil e a saída vier de fora para dentro, que este povo aprenda a lição. Que saibamos nos unir — ainda que divergentes em tantos temas — ao redor do essencial: o voto auditável, o respeito à Constituição e o fim do arbítrio. Sem isso, o golpe seguirá, e a democracia continuará apenas como uma lembrança distante.

Num país onde o crime compensa, onde o chefe de Estado apoia terroristas, o problema já não é mais político. É de sobrevivência.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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