uranio

Em regiões riquíssimas do AP. o brasileiro não pode entrar e nem explorar. Já o tráfico parece não ter a mesma dificuldade.

Em 2004, a Polícia Federal apreendeu, no interior do Amapá, 18 sacas de um composto de urânio e tório transportadas na caçamba de uma camioneta. Estes minérios, altamente radioativos, são abundantes em jazidas localizadas no extremo Norte do Brasil. “Ali estava o fio da meada para a descoberta de uma das mais obscuras máfias em operação no país, com ramificações internacionais e especializada na extração clandestina e comercialização ilegal de urânio”, relata Rodrigo Rangel na Revista IstoÉ de 17/05/2006.

À luz do atual conflito entre Israel e Irã, a coincidência da atracagem de navios de guerra iranianos no Porto do Rio de Janeiro, entre 26 de fevereiro e 4 de março de 2023, levanta especulações sobre uma eventual colaboração do governo brasileiro no fornecimento de urânio para fins bélicos.

O governo brasileiro reafirma ser signatário de tratados internacionais de não proliferação nuclear, e a Comissão Nacional de Energia Nuclear nega qualquer exportação de urânio para o Irã. Contudo, a ausência de registros formais não exclui a possibilidade de operações clandestinas. É neste ponto que a reportagem investigativa da IstoÉ, realizada quase duas décadas atrás, ganha atualidade. Importa lembrar que, à época, Lula estava no seu primeiro mandato como presidente do Brasil.

A investigação revelou centenas de horas de escutas telefônicas, que detalham o funcionamento da máfia — desde a extração do minério nos garimpos da floresta amazônica até às transações conduzidas por quadrilhas que exportavam o material para clientes tão enigmáticos quanto influentes, muitas vezes com o apoio de autoridades e políticos. Além de brasileiros, os nomes sob investigação incluíam cidadãos irlandeses, russos e alemães. Os destinos do minério incluíam países europeus, asiáticos e africanos — com destaque para a Rússia e a Coreia do Norte.

Segundo a reportagem, a polícia chegou a identificar Haytham Abdul Rahman Khalaf, um libanês apontado como elo de ligação com o grupo extremista Hamas. Foram mapeados três grupos especializados no tráfico de urânio, todos sediados em Macapá. O principal deles era liderado por João Luís Pulgatti, empresário com um consórcio de empresas de mineração que obtinha autorizações formais para pesquisar jazidas de ouro, mas que, de fato, explorava e comercializava minério radioativo.

Pulgatti associou-se em 2004 a John Young, cidadão irlandês naturalizado canadense, que enviou um geólogo ao Amapá para avaliar minas e negociar a compra de uma área de mil hectares com cerca de 50 mil toneladas de minério radioativo, segundo as escutas da polícia.

Outro grupo era chefiado por Robson André de Abreu, empresário do setor madeireiro, proprietário de mineradoras e de um restaurante de renome em Macapá, também envolvido numa rede de fornecedores. O terceiro grupo era liderado por um homem identificado apenas como "Nogueira". Os investigadores concluíram que o negócio ultrapassava largamente os 600 kg inicialmente apreendidos. As escutas revelam transações envolvendo até dez toneladas. A máfia tinha, ainda, ligações com figuras do poder público.

Entre os agentes públicos mencionados estavam senador, deputado estadual e ex-deputado federal, além de procurador da República, que facilitavam o contrabando. A IstoÉ visitou o endereço da Uniworld Mineração, uma das empresas de Pulgatti e John Young. No local, havia apenas um barraco de madeira numa rua enlameada — contraste gritante com os luxos mencionados nas escutas, que incluíam aquisição de caminhonetes importadas e até de aeronaves.

Este episódio remete para um caso recente envolvendo a empresa Queijo Minas (Wisley A. de Souza Ltda), que venceu um leilão da Conab para importar 147,3 mil toneladas de arroz, com repasse de R$ 736,3 milhões do governo. A semelhança nas práticas levanta suspeitas sobre a repetição de padrões no Estado.

A reportagem detalha ainda como a extração, transporte e armazenamento do urânio eram feitos de forma clandestina. As minas situavam-se entre Porto Grande, Serra do Navio e Pedra Branca. Porto Grande, por estar ligado por estrada asfaltada a Macapá (110 km), funcionava como entreposto. O minério era transportado por estrada ou barco até ao Oiapoque e, de lá, para a Guiana Francesa e outros destinos. Os grampos mencionam até um estoque de oito toneladas mantido no interior de São Paulo.

Você pode ler a reportagem da época com mais detalhes no link abaixo:

https://uc.socioambiental.org/pt-br/noticia/41419

Perante os fatos do passado e o cenário atual, surgem reflexões importantes sobre a soberania brasileira, a administração da Amazônia e os interesses políticos e econômicos internacionais.

No governo FHC, o Brasil tornou-se signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT), optando por um desarmamento formal. Alguns argumentam que a posse de armas nucleares serve como fator de dissuasão e aumenta o poder de negociação internacional.

Assim, o Brasil encontra-se vulnerável — rico em recursos cobiçados pelo mundo, com território extenso, mas desprotegido. A recusa oficial em fornecer urânio não exclui a possibilidade de conivência indireta, quando há envolvimento de políticos e servidores públicos no contrabando. Isso coloca o país numa posição de cumplicidade involuntária com regimes hostis, como a Rússia, Coreia do Norte ou grupos extremistas.

Seria a criação de reservas ambientais no Amapá uma estratégia para impedir o acesso da população local às riquezas e facilitar o contrabando, com o apoio de políticos e órgãos governamentais?

Mais preocupante ainda, estará o Brasil a aliar-se, sem consentimento popular, a regimes autoritários e grupos terroristas? Desde quando? Que governos promulgaram leis que limitam o acesso dos brasileiros às suas próprias riquezas?

Dois acontecimentos recentes reforçam estas inquietações: a resistência à exploração de petróleo na Margem Equatorial, contrariando interesses econômicos locais e nacionais; e a atuação do IBAMA e ICMBio contra produtores no Pará, onde agricultores e pecuaristas têm sido punidos de forma severa, como se fossem criminosos.

Estará o país refém de um regime encoberto? A aproximação do governo Lula ao Irã — país com histórico de repressão e alianças com grupos terroristas — levanta sérias precupações.

Num vídeo para a Al Jazeera, na época, a senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que Lula era um “preso político” e apelou à solidariedade internacional. Até que ponto este apoio poderia ser interpretado como um aceno a aliados pouco recomendáveis? Hamas estaria devendo algum favor para o Lula e naquele momento seria a hora de pagá-lo? O que justifica tamanha aproximação?

Quem mais se beneficiou com o regresso de Lula à presidência? E os poderes que o apoiaram, estariam, direta ou indiretamente, envolvidos com o crime organizado internacional? Tenho mais perguntas do que respostas. Porém, elas precisam ser feitas e respondidas, para o bem do Brasil.

Corremos o risco de nunca nos tornarmos a grande e próspera nação que nascemos para ser e ainda regredirmos em muito nas nossas liberdades, na economia, entrando num cativeiro difícil de sairmos sozinhos. O Irã de antes de 1979, não se parece nem de perto com o Irã que vemos hoje, liderado pelo regime islâmico. A opressão naquele país é tanta, que os cidadãos comuns estão vendo as ações militares de Israel como uma grande chance de libertação. Nossos netos podem não conhecer o Brasil que conhecemos um dia.

As declarações do governo contra Israel e em defesa do Hamas, aliadas à possível participação de políticos e agentes públicos no contrabando de urânio no Amapá, não podem ser vistas como coincidência. O Brasil está numa encruzilhada perigosa — sem defesas, sujeito a sanções ou, no limite, a ameaças externas. Os únicos impedidos de acessar às riquezas do Brasil são os próprios brasileiros.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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