Sílvia e seu pai, Seremete.  Sua vida privada e sua história de infância são usadas para descredibilizá-la. No Ranking dos políticos ela é a melhor do Amapá.

 EXCLUSIVO

Nos últimos dias, o portal de notícias UOL afirmou ter realizado uma investigação sobre a vida da deputada federal pelo Amapá, Sílvia Waiãpi (PL), colocando em dúvida sua origem indígena, idade, filiação e formação. A reportagem foi repercutida por alguns veículos da imprensa amapaense – os mesmos de sempre quando se trata de atacar adversários políticos que ameaçam o sistema estabelecido.

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Sílvia com o seu pai, Peremete, e sua mãe, Pupira. Fotos do arquivo pessoal.

É o típico conteúdo encomendado, recheado de termos como “amigos ouvidos sob condição de anonimato” e entrevistas com desafetos escolhidos a dedo para dar credibilidade à difamação. A vida íntima de qualquer pessoa diz respeito apenas a ela, especialmente sua história mais remota. Diante de tudo que a parlamentar já relatou em diversas entrevistas, sobre o que enfrentou e sofreu, há razões que apenas ela conhece para não responder a essa matéria desrespeitosa, mantendo também máxima discrição em relação aos seus familiares, sejam de sangue ou adotivos.

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A filha mais velha da Sílvia, com 2 anos de idade. Imagens exclusivas do arquivo pessoal da deputada.

Sílvia, que teve um marido sequestrado e assassinado, sabe o que é perder a família. Sua discrição sobre o passado não indica ocultação, mas sim a proteção de pessoas e histórias. Esperar sensibilidade daqueles que exploram a dor alheia para obter vantagens políticas é esperar demais.

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Y, filha mais velha e T, filho. Hoje, ele tem 33 anos. Imagens exclusivas do arquivo pessoal da deputada.

Essa prática não é nova. Ao longo da história do Brasil, sempre que alguém ousava dizer verdades incômodas e necessárias, era alvo da máquina de destruição da mídia. Foi assim com Enéas Carneiro. Suas falas, hoje validadas, foram ridicularizadas por uma imprensa a serviço do sistema, que o retratou como um lunático. Já imaginou em que país viveríamos hoje se Enéas tivesse sido eleito presidente e não tivéssemos dado ouvidos à Globo? Talvez a Amazônia não estivesse entregue às ONGs, e as escolas e universidades estivessem formando cidadãos produtivos em vez de delinquentes.

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M, neta da Sílvia com seu bisavô, Seremete, aos 7 anos, antes do ritual da Tucaneira. E com a avó, aos 18 anos. 

O que a imprensa fez no passado – e ainda faz – é criminoso, covarde e inclassificável. Uma imprensa que sabota o próprio país ao impedir que pessoas preparadas e bem-intencionadas cheguem ao poder. Bolsonaro também foi vítima disso e só chegou à presidência graças às redes sociais – razão pela qual o sistema corre para impor regulamentações e censura. Querem silenciar os "muitos Enéas" que surgem com o fim do monopólio da informação.

Não se iluda: qualquer pessoa que se levante com coragem para defender a soberania do Brasil será esmagada pelo sistema, e uma das suas armas é a imprensa. Felizmente, ainda existem jornalistas e parlamentares comprometidos com a verdade e com a ética.

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Inauguração da UBSI Ytuwasu, em 2019. Município de Pedra Branca do Amapari -AP. Fotos de arquivo pessoal.

Procuramos a deputada Sílvia e recebemos dela registros fotográficos que atestam sua vivência na tribo Waiãpi e sua formação profissional, evidenciando que muito antes de integrar a equipe de transição de Bolsonaro ou atuar em ministérios, ela já servia ao seu povo. Sua escolha não foi por cota ou por ser indígena, mas por mérito e competência. Mas, para o sistema, parece absurdo demais uma indígena com esse perfil.

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Recebendo os cuidados do seu pai, Seremete. Fotos de arquivo pessoal

Se Sílvia fosse como o cacique Raoni – que percorreu a Europa sem defender de fato a soberania do Brasil e sim os interesses das ONGs que o patrocinam – sua vida privada estaria intocada. Da mesma forma, Marina Silva, que há décadas serve aos interesses globalistas sob o manto de sua origem seringueira, enquanto vive no luxo em São Paulo, nunca sofreu ataques dessa magnitude.

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Em Brasília, com seu tio e seu primo, quando Janete Capiberibe era Deputada, em meados de 2011, Sílvia já lutava pela saúde indígena. Exclusivo arquivo pessoal.

O sistema tenta cooptar os povos indígenas, e os que não se rendem devem ser eliminados da história. Ironia cruel: legisla-se em nome da “proteção dos povos originários”, mas se um indígena decide estudar, formar-se, especializar-se, passa a ser alvo de desconfiança.

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Parceria quando Sílvia era secretária do MIn. da Saúde. Posto com energia solar e internet, pronto em 3 meses.

Sílvia sempre valorizou os estudos e superou não apenas dificuldades financeiras, mas, sobretudo, o preconceito. Adolescente, saiu do Amapá para viver no Rio de Janeiro, onde foi discriminada pela cor, pela origem, pela aparência, pelo sotaque. Ainda assim, manteve o foco, preparou-se silenciosamente, mesmo sendo desprezada por muitos.

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6h de Macapá para Aramirã (Pedra Branca do Amapari), 8h de barco até Yatape no Tabocal e são cerca de 4h de barco até a aldeia Ytuwasu pelo rio.

Recentemente, eu conheci uma indígena cuja história reflete essa realidade. Filha de mãe indígena e pai militar desconhecido. Sua mãe e tias foram separadas, cada um delas vivendo com famílias diferentes e, por conta disso, ela recebeu o sobrenome da família que criou a sua mãe. Mesmo assim, mantém seus vínculos e identidade. Ela produz artesanalmente dentro da reserva, mas é impedida de vender para fora. Para exportar para outro estado ou país, teria que sair da terra indígena, mesmo possuindo estrutura lá. Essa história revela duas verdades: o passado das pessoas é a sua verdadeira história e só elas sabem e os indígenas são impedidos de prosperar tanto dentro quanto fora de suas terras.

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Recebendo a Comenda Fernando Lemos destinada a pessoas que marcam a história da saúde no Brasil. Arquivo pessoal.

Na região norte, erros em registros de nomes e datas são comuns. Documentos são frequentemente corrigidos. Hoje, é permitido até mudar de nome e de gênero. No entanto, situações de décadas atrás são tratadas como crimes, como se uma criança tivesse forjado seus próprios documentos com intenções adultas. A matéria é uma covardia sem precedentes. Já questionam até se Sílvia foi realmente estuprada – uma dor que só ela conhece. Em seus relatos, ela afirma que esse foi o motivo dela ter se tornado atleta.

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Reunião de Conciliação em defesa do Marco Temporal no STF. Foto: Ton Molina/STF

A parlamentar nunca planejou uma carreira política. Jamais premeditou uma farsa. Ela viveu o que viveu e não pode ser crucificada por circunstâncias fora do seu controle, ocorridas na infância, e que moldaram quem ela é hoje.

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Homologação de pistas de pouso para melhorar atendimento de urgência da Saúde Indígena. NUCOM/SESAI.

Ela nos forneceu diversos certificados (não publicados por proteção de dados), entre os quais: Fisioterapia (2007), Especialização em Anatomia e Biomecânica (2011), Pilates (2012), Especialização em Fisioterapia em Terapia Intensiva (2021), Transporte Aeromédico (2013), Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (2017), Congressos militares, Liderança Estratégica pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército (2018), entre outros.

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 Em defesa dos direitos dos indígenas e quilombolas. A cidadania plena deve ser dada a todos os brasileiros

Participou dos X Jogos dos Povos Indígenas em Paragominas (2009) na organização e foi convidada pela ONU (2013) para curso sobre segurança em trabalho de campo, destacando-se como a primeira tenente indígena das Forças Armadas.

Como secretária especial da SESAI, participou do IV Seminário Aeromédico em São Paulo, defendendo melhorias logísticas para atendimento em áreas indígenas.

Desde janeiro de 2023, sua atuação na Câmara Federal incomoda. Primeiro, por legislar com conhecimento, coragem e protagonismo. Segundo, por não aderir aos “acordos” políticos locais. Terceiro, pelas pautas sensíveis que defende: aumento de penas para pedófilos, combate a ONGs internacionais, segurança pública, soberania nacional, combate ao tráfico humano, de drogas e de órgãos. Quarto, por lutar pelo desenvolvimento da Amazônia. Quinto, por ser uma mulher indígena que, para muitos, “não deveria ter chegado tão longe”. Além de tudo isso, acumula excelentes avaliações enquanto parlamentar, estando entre as melhores parlamentares do Brasil e a melhor do Amapá, segundo o Ranking dos Políticos.

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Em comentários nas redes, negam que ela tenha sido estuprada. Algo completamente absurdo,  já que só a vitima pode saber.

O ódio à sua figura chegou ao ponto de uma assessora de outro deputado federal do Amapá, em um grupo de whatsapp, pedir que alguém a matasse, em razão de sua defesa veemente do marco temporal.

Sílvia Waiãpi encontrou-se recentemente com Tim Ballard, inspiração do filme Som da Liberdade, que aborda o abuso infanil.  Ela tem se tornando símbolo da defesa da infância no Brasil – uma pauta sensível no Amapá e cara para ela, por tudo que viveu e por conhecer a realidade das crianças do Norte. Seu exemplo mexe com interesses poderosos.

Dentre as suas ações enquanto parlamentar que afrontou o sistema, cito algumas: a denúncia sobre os 35 navios russos com óleo diesel no Porto de Santana; a ação civil pública contra o IBAMA e ministérios do Governo Lula; o pedido de devolução do dinheiro usado pela USP para pagar a ex ministra da justiça da frança Christiane Taubira que realiza um estudo sobre os biomas da Amazônia e declarou que quem deve mandar é o mundo e não nós; o PL 2144/23 já aprovado na câmara que dobra a pena de abusadores sexuais de crianças; os 48 milhões para segurança pública para combate ao crime organizado no Amapá;  a atuação na Conciliação do Marco Temporal.

Durante a campanha, em 2022, Sílvia protestou por falta de recursos, enfrentando desigualdades dentro do próprio partido. Foi eleita com poucos votos, vencendo contra todas as probabilidades, tornando-se incômoda ao sistema.

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No IV Seminário Aeromédico em São Paulo que reuniu especialistas na área. Foto: Divulgação ABOA

A acusação de uso de verba para harmonização facial é absurda. Não faz sentido, dado seu perfil e as condições de campanha. Foi vítima de armação que se tornou “real” por conveniência política. O sistema sabe que esse dinheiro não saiu da conta dela, e sim da conta da denunciante. Sabe também que "providenciaram" um recibo em data posterior a denúncia, o sistema se baseia em um recibo de tratamento dentário e cassou o mandato da parlamentar por harmonização facial. O sistema dispensou o depoimento oficial do dentista e a possível coleta de provas (vídeo) foi feita fora do ambiente judicial protegido. O sistema sabe porque recusou o pedido de perícia, no caso ultrassom que detectaria qualquer possível material no rosto da deputada. Outro  absurdo foi que o sistema reprovou as contas da parlamentar depois de um ano e meio elas terem sido aprovadas por especialistas do TRE para poder justificar uma cassação.  Agora, Sílvia Waiãpi enfrenta mais uma decisão absurda: a perda de seu mandato, por mudanças nas regras do jogo após o fim do pleito.

Dizem que os indígenas são os verdadeiros donos do Brasil, mas lhes negam cidadania plena. Quando uma indígena se levanta para servir à pátria, sua identidade é posta em dúvida. Sílvia, de sangue ou adoção, é mais indígena do que muitos, pois carrega consigo uma missão: resgatar seu povo do isolamento e inseri-lo como cidadão pleno.

A identidade não se perde com o deslocamento. O povo de Israel é prova disso. Assim como os judeus mantiveram sua essência longe de sua terra, Sílvia também carrega em si o espírito e a alma do seu povo. Estudou, formou-se, aprendeu outros idiomas e culturas – sem jamais perder a essência de quem é. E é esse o maior risco que representa para o sistema: seu exemplo. Ao condenarem Sílvia, condenam todo um povo ao ostracismo. Ela tem coragem de representar quem nunca foi representado. Coragem de ser a voz dos invisíveis.

Atacaram, covardemente, a Sílvia criança e sua história, porque não conseguiram vencer com argumentos a Sìlvia adulta que luta de forma resignada pelo seu país e seu povo. Isso é tudo, menos jornalismo.

Adriana Garcia

Jornalista na Amazônia

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