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Presença de Tim Ballard, que inspirou o filme Som da Liberdade, lota auditório da OAB. Todos contra a pedofilia e o tráfico humano. Foto: Maycon Abreu
Na noite da segunda-feira, 07 de julho, o auditório da OAB/AP foi palco de um evento marcante sobre dois dos crimes mais hediondos e silenciosos que assolam o país: o tráfico humano e a pedofilia. A palestra foi conduzida por Tim Ballard, ex-agente da CIA e do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, cuja trajetória inspirou o filme “Som da Liberdade”. A noite reuniu advogados, servidores do judiciário, membros da segurança pública, autoridades políticas e o público em geral, comovidos e mobilizados pela causa.
A primeira dama de Macapá, Dra. Rayssa Furlan, prestigiou o evento na OAB/AP, palco de discussões relevantes. Foto: Maycon Abreu
Um dos organizadores do evento, Dr. Thoni Furtado, destacou a urgência do tema e a necessidade de uma atuação mais firme por parte das autoridades e instituições locais:
“A omissão só perpetua o sofrimento e a impunidade. É hora de agir com determinação, garantindo que esses crimes sejam combatidos de forma efetiva e que as vítimas recebam a proteção e o apoio necessários. A sociedade também tem um papel importante: denunciar suspeitas, apoiar vítimas. Juntos podemos fazer a diferença.”
Dr. Thoni agradeceu à deputada federal Silvia Waiãpi pelo apoio decisivo para a realização do evento:
“Ela tem sido uma voz ativa e fundamental nessas pautas.”
"Prometi a esse pai que, enquanto eu tivesse voz, lutaria para que nenhuma outra criança tivesse seu sonho roubado". Foto: Maycon Abreu
Um dos momentos mais emocionantes da noite foi a homenagem à delegada Clívia Valente, uma das autoridades mais atuantes no combate à pedofilia e ao tráfico humano no Amapá. Ela foi ovacionada de pé pelos presentes. A deputada Silvia Waiãpi ressaltou:
“Toda sociedade precisa de heróis, e muitos deles não usam capa. Agem em silêncio, com dor, muitas vezes chorando escondido. Dra. Clívia, você é uma heroína do Amapá.”
Delegada Clívia Valente recebe homenagem, pela sua luta contra a pedofilia e tráfico humano no Amapá.
Emocionada, a delegada Clívia respondeu:
“Estamos na linha de frente, combatendo quem fere a dignidade das nossas crianças. Não é fácil. É um trabalho duro, doloroso, mas gratificante. Não faço sozinha. Tenho uma equipe dedicada comigo na DERCA. São 30 anos de dedicação à infância.”
Duas mulheres e uma missão: proteger crianças e prender pedófilos. Sílvia e a Delegada Clívia Valente. Foto: Maycon Abreu
A vice-presidente da OAB/AP parabenizou o presidente da entidade, Dr. Israel da Graça, por ter acolhido e apoiado o evento. Ela também agradeceu à deputada Silvia Waiãpi:
“Apesar de morar no Amapá e conhecer a realidade, só nos últimos dias tomei consciência de episódios que ocorrem aqui e que muitas vezes nos passam despercebidos.”
A primeira-dama de Macapá, Dra. Rayssa Furlan, também se pronunciou: “Criança é uma pauta muito sensível. Muitos assistiram ao filme e, tenho certeza, abriram os olhos sobre os perigos invisíveis que nos cercam. Precisamos pensar em políticas públicas eficazes para proteger as nossas crianças.”
O prefeito de Macapá, Dr. Furlan, também marcou presença: “A proteção das nossas crianças é a pauta mais importante. O tráfico humano é o crime que mais cresce no mundo, mais até que o narcotráfico. Estamos aqui para aprender e para agir.”
O prefeito de Macapá, Dr. Furlan e o Dr. Thoni Furtado, organizador do evento.
O presidente da Escola Judicial (EJAP), desembargador Rommel Araújo, destacou a coragem como um dos pilares da advocacia e do combate ao crime:
“O que eu posso fazer a mais para combater esse horror? Essa é a pergunta que saí me fazendo depois de ouvir Tim. É um compromisso com a justiça e com a paz social. E saber que essa luta vai começar aqui no Amapá nos enche de responsabilidade e esperança.”
Silvia Waiãpi emocionou os presentes ao relatar o caso que a levou a abraçar a causa. “Recebi o pedido de ajuda de um pai. Sua filha, Estefânia Teixeira, de apenas 7 anos, foi abusada, estrangulada, morta e jogada no matagal. O assassino foi liberado após completar a maioridade. O crime foi esquecido, e a Estefânia também. Prometi a esse pai que, enquanto eu tivesse voz, lutaria para que nenhuma outra criança tivesse seu sonho roubado. E foi assim que nós aprovamos lá na câmara o projeto de lei 2144/23 por unanimidade. A lei que dobra a pena de abusadores sexuais”
Tim Ballard, Sílvia, seus pais, Semereté e Pupira, e a tradutora Lili Pacheco. Foto: Maycon Abreu
A parlamentar lembrou que, a partir desse caso, encontrou outras seis histórias semelhantes. “Prometi que, pela Estefânia, eu não descansaria enquanto não visse todos os pedófilos na cadeia.”
Em um gesto simbólico e comovente, Silvia pediu que o presidente da OAB entregasse a Tim um colar indígena feito pelo povo Tiriyó, como sinal de compromisso com as crianças brasileiras — “assim como Miguel não foi esquecido, Estefânia também não será”, declarou.
TIM BALLARD: UM ALERTA GLOBAL A PARTIR DA AMAZÔNIA
Durante sua fala, Tim Ballard relatou sua experiência na Ucrânia em 2022, quando resgatou crianças em meio à guerra.
“Deus me preparou para esse momento. Essa é uma guerra espiritual. Já resgatamos mais de 10 mil crianças em 20 países. O ‘Som da Liberdade II’, que ainda será lançado, vai contar a operação no Haiti, de onde adotamos duas crianças.”
"Brasil está entre os cinco países com maior incidência de tráfico sexual e tráfico de órgãos".
Ele narrou ainda a busca frustrada por sete crianças órfãs desaparecidas na Ucrânia, e como essa missão o levou a descobrir, no Equador, uma rede de tráfico sexual de crianças. “Foi a maior operação que já fiz. Nunca vi nada igual. Um hotel inteiro usado para exploração sexual infantil. Crianças da mesma familia eram levadas para lá.”
Ballard explicou que o Brasil está entre os cinco países com maior incidência de tráfico sexual e tráfico de órgãos infantis: “O mercado negro de órgãos infantis movimenta 1,5 bilhão de dólares por ano. Um coração de criança pode ser vendido por até 250 mil dólares. E as pessoas perguntam. ‘Por que nós não ficamos sabendo disso’? Porque a maioria das informações que temos são de sobreviventes resgatados antes que morressem. Porque a maioria das vítimas desse tipo de crime não sobrevive para contar.”
Tim e Sílvia: o abraço de duas forças sendo potencializadas para salvar vidas na Amazônia brasileira. Foto: Maycon Abreu
Ele reforçou que a luta no Brasil começa pela Amazônia e que uma grande operação está em planejamento, com base no que foi aprendido em ações recentes como a de Canoas. “Temos um plano. Não posso revelar detalhes, mas será um modelo a ser replicado em locais de difícil acesso no mundo todo.”
EXIBIÇÃO EXCLUSIVA E COMOÇÃO GERAL
Ao final da palestra, Tim apresentou o documentário ainda inédito sobre a operação na Ucrânia e o tráfico de crianças. A exibição terminou por volta das 22h, com o público emocionado, muitos em lágrimas e convictos de que algo precisa ser feito urgentemente.
Lili Pacheco que faz parte da comitiva, foi a tradutora do evento. Tim Ballard e sua equipe permanecem no estado para intercâmbio com forças de segurança, articulação de estratégias e visita à região de fronteira no Oiapoque. Sua próxima vinda ao Amapá está prevista para agosto.
Assista a palestra completa
Adriana Garcia
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