
A Falta de Coragem do Brasil: Quando o Povo Não Luta por Si Mesmo.
Sanções retiradas e a falsa sensação de vitória
Nesta sexta-feira, 12 — mas com cara de 13 — o presidente dos EUA retirou as sanções impostas ao ministro Alexandre de Moraes e à sua esposa, Viviane Bacci de Moraes. Há quem diga que foi uma derrota de Trump, da direita. Mas parece que somente a direita perseguida bolsonarista entendeu que a derrota é do Brasil.
Em nenhum momento Moraes se intimidou com as sanções, muito menos recuou de seus abusos e arbítrios. Pelo contrário: cometeu mais um bem recente, ao anular a decisão da Câmara Federal de manter o mandato de Carla Zambelli. Porque ele é desses: ou se conversa com ele antes, como fez Paulinho da Força, e se faz o que ele orienta, ou é perda de tempo contrariá-lo.
Mas os que se dizem democráticos acham tudo isso normal e, para estes, Moraes é o grande herói que salvou o Brasil da ditadura dos golpistas e de Bolsonaro.
O teatro político e os “ganhos colaterais”
Tirando o fato de que vamos ter que aguentar petista idiota dizendo que Lula é o cara e que conseguiu essa proeza, vamos ao que pode estar por trás dessa decisão. Antes que eu esqueça, tivemos um saldo positivo: nos livramos do Barroso e agora a Corte deve oxigenar com um novo representante do crime organizado. A fila dos malandros andou.
Longe de mim afirmar qualquer coisa, mas posso conjecturar algumas possibilidades.
Interesses nacionais e negociações de bastidores
Primeiramente, toda ação de Trump é baseada em interesses de seu país — algo que falta por essas bandas. Portanto, o avanço do comunismo na América Latina não é de interesse do “laranjão”, o que pode ter sido uma das motivações para impor as sanções.
Porém, ele deixou claro que tanto as tarifas quanto as sanções eram por questões políticas: pelo avanço do arbítrio, da perseguição a oponentes e das prisões ilegais. Será que, com a votação da dosimetria, o Congresso deu o recado de validar a culpa daqueles que são inocentes e Trump decidiu não mais lutar por uma anistia quando quem tem legitimidade aceitou essa dosimetria?
Entre a carta e as sanções, surgiu a operação na Venezuela. Pode ser que essas sanções tenham sido usadas como moeda de troca: “entrega a cabeça do Maduro e eu tiro as sanções do torturador do Brasil e deixo que o povo brasileiro resolva seus BOs, já que eles reclamam, mas nada fazem”. Mas não é só isso: “afaste-se da China e quero suas terras raras”.
São especulações, mas o que quero dizer é que ele não recuou sem preço — e esse preço deve ter sido bastante alto para o Brasil e vantajoso para os EUA.
Trump não perde — ele negocia
Trump não se importa com o que falam dele e não está nem aí se hoje dizem que foi derrotado pelo Xandão. Ele é um homem de negócios, e quem negocia para ganhar não se importa em recuar no meio do caminho para vencer no final. A novela terminou mais um capítulo, mas ainda está longe de ser o fim.
Ele detesta povo covarde, que não tem amor à sua bandeira, à sua história. E o que o Brasil mostrou todos esses meses foi que não queria se indispor, esperando que Trump resolvesse. Porém, manter um problema que não é mais dele em suas mãos poderia começar a lhe causar prejuízos econômicos ou políticos, já que ele precisa garantir maioria no Legislativo em 2026. Trump sabe abrir mão da solução de terceiros para evitar problemas a si mesmo. Foi o que fez com a Europa e a guerra na Ucrânia.
Um povo que não luta por si mesmo
Mas ele pode ter outros motivos para estar de consciência limpa a esta hora: para que lutar por um povo que não luta por si mesmo? Para que impor condições para a libertação de um povo que não sabe o preço da sua liberdade e quer que outros sempre paguem por ela?
O Brasil tem um Congresso que se omite de sua responsabilidade, tem um povo que ainda não sabe lutar por uma democracia plena e tem a mania de esperar sentado, sem se indispor, sem suar a camisa, sem estresse, a solução definitiva de problemas antigos causados justamente por suas más escolhas e omissões.
A direita permitida e o silêncio conveniente
O Brasil tem uma direita permitida que fechou os olhos para a carta clara de Trump e agiu como se tudo fosse apenas uma questão econômica. Essa mesma direita foi a primeira a malhar a atuação de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo nos EUA.
E tem uma multidão que assistiu à morte do Clezão, às condenações absurdas como a da Débora do batom, e assiste inerte à tortura imposta a Bolsonaro na prisão. Por que Trump insistiria em ser juiz de uma causa que o povo brasileiro não faz o menor esforço para defender?
A soberania não se terceiriza
É preciso, ao menos, tirar lições dessa experiência. A responsabilidade de resolver os problemas do Brasil é do povo brasileiro. Se continuarmos delegando a terceiros, vamos dever algo a esses terceiros e nos tornaremos uma colônia gigante, moderna e rentável para eles.
Pelo nosso histórico de omissões e por sermos guiados por uma cúpula cujo único objetivo é controlar as massas e acumular riquezas, é possível que essa independência e soberania plena estejam cada vez mais remotas de se concretizar. Mas precisamos ter a hombridade de, ao menos, lutar para que isso aconteça.
A águia, o ninho e o amadurecimento forçado
Trump pode estar nos dando a oportunidade de amadurecer como nunca. Assim como a águia joga seus filhotes do ninho — não para lhes causar dano, mas para ensiná-los a voar. Ele não tem qualquer espírito de maternidade para fazer isso, mas sabe que um país livre, que caminha com as próprias pernas, dá menos trabalho e causa menos transtornos à sua nação.
Narrativas, imprensa e contradições
Agora, precisamos estar atentos às narrativas. Muitos serão pegos em contradição. O fato é que, justo agora que a imprensa brasileira resolveu reconhecer o que sempre soube — os abusos da Suprema Corte e, especialmente, de Alexandre de Moraes — não temos mais qualquer ajuda externa que tente, ao menos por meio de sanções, minimizar a ação do ditador.
Será que a imprensa também vai parar de chamar manifestantes de golpistas? Vai reconhecer a tortura imposta a Bolsonaro e a perseguição e tentativa de aniquilação da direita bolsonarista? Vai usar o horário nobre para acordar as massas e desdizer tudo o que disse nesses anos? Vai expressar saudades do “Bozo”? Vai reconhecer os esforços de Eduardo e de Paulo Figueiredo em tentar fazer algo de fora para dentro para deter esse ditador, já que nem mesmo o Congresso tem poder para tal? Chegará ao ponto de dizer que Bolsonaro sempre teve razão?
Afinal, ele nunca censurou ninguém e nunca usou o judiciário para perseguir seus opositores. Pelo contrário, sempre foi vítima do judiciário, que o persegue sem tréguas.
O problema é nosso — exclusivamente nosso
O que fica claro é que o problema de manter um psicopata na Suprema Corte é nosso, somente nosso. A ajuda que Trump deu foi boa enquanto durou e pessimamente aproveitada por uma população acomodada, que esperou uma solução imediata, fácil, sem riscos e externa.
Não sei o que Trump negociou, mas ele nunca perde. Quem perdeu foi o povo brasileiro — por sua inércia, sua falta de conhecimento e seu descaso com as questões políticas que afetam tudo em sua vida. A maioria terceiriza a responsabilidade porque não quer se estressar.
Tenho cada vez mais certeza de que democracia não é para quem quer, é para quem pode. E só pode quem luta por ela de verdade, ainda que isso lhe custe a vida. Muitos descobrirão tarde demais que ser livre é mais importante do que simplesmente viver. Sem liberdade — um direito universal, dado ao homem pelo divino — a vida não vale a pena.
Aos covardes restará o choro, e nem este será livre. Restará o remorso e a cafajestagem de jogar sempre a culpa no outro por aquilo que ele mesmo deveria ter feito.
Adriana Garcia
Jornalista na Amazônia
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